Saúde dos profissionais da Segurança Pública em risco

Foto: Reprodução/ Observatório do Terceiro do Setor

Por Delegada Martha Rocha
11/01/2022

A ausência de um banco de dados legítimo produzido pelas corporações demonstra um cenário alarmante, tendo em vista ser essencial o registro e monitoramento de casos – pelo menos os graves – envolvendo a saúde dos agentes

O adoecimento físico e mental dos agentes de Segurança Pública é uma realidade cada vez mais preocupante. As pressões vivenciadas no dia a dia, além dos riscos da profissão, são fatores que desencadeiam uma centena de doenças. Distúrbios do sono, hipertensão, diabetes, depressão e até mesmo suicídio são mais comuns do que muita gente imagina.

Outro problema tão grave quanto à saúde dos agentes é que não temos investimentos em pesquisa e compilação de dados sobre o assunto. Afirmar que os agentes de segurança são um grupo de risco se torna algo pessoal, uma constatação de conhecimento de causa, com poucas informações de fontes oficiais.

A ausência de um banco de dados legítimo produzido pelas corporações demonstra um cenário alarmante, tendo em vista ser essencial o registro e monitoramento de casos – pelo menos os graves – envolvendo a saúde dos agentes. Somente com informações detalhadas será possível a criação e implementação de políticas públicas e medidas de prevenção e promoção de saúde.

Trabalhar com atividades de salvamento, policiamento ostensivo e de investigação, policiamento penal e de socioeducativas apresenta peculiaridades que impactam rapidamente na saúde dos agentes. E esses desdobramentos podem comprometer a vida social e de trabalho desses profissionais e seus familiares. Temos que lembrar que eles não são um equipamento que funciona se você apertar o botão.

Na Alerj, tramita o projeto de lei 4.990/21, de minha autoria, que trata da saúde do trabalhador em instituições de segurança pública e do monitoramento de casos de suicídios de policiais. O texto está aberto a sugestões das categorias e pode ser o primeiro passo para o Estado cuidar desses profissionais. São eles que estão nas ruas para nos proteger e não há mais como adiar a busca para a solução desse problema.

De acordo com especialistas, nos primeiros anos de trabalho dos policiais, por exemplo, experiências e a adrenalina de prestar serviço é algo animador por quem chega recente na corporação. Mas, depois de cinco, ou dez anos vivendo nessa condição diariamente, há grandes chances de adoecimento mental pela exigência do tipo de serviço, de estar sempre alerta para atividades criminosas, sem momentos plenos de descanso.

Os agentes da Segurança Pública fazem parte de um grupo diferenciado da população por estarem lidando, no seu cotidiano, com a violência e a criminalidade. Em 2020, o Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio fez um levantamento com dados obtidos por fontes não oficiais.

No Brasil, foram registradas 143 notificações em 2019. Dos 83 profissionais de segurança pública vítimas de suicídio em 2019, 74 eram do sexo masculino e 9 do feminino. A média de idade desses agentes era de 40 anos. São Paulo e Rio de Janeiro lideram os números de notificações. O estereótipo do agente forte por trás da farda ou do distintivo impede, muitas vezes, que ele peça ajuda.

 

*Delegada Martha Rocha é deputada estadual pelo PDT do Rio de Janeiro.