“O Rio será símbolo do emprego verde”


brasil247
10/03/2023

Secretário do Trabalho do Município do Rio de Janeiro, Everton Gomes avalia que a questão climática exige pensar uma nova estruturação da questão produtiva no mundo

 

Mesmo consciente de que o ciclo da economia petrolífera não se encerra facilmente, mas sabendo também que as questões climáticas exigirão profundas mudanças que afetarão, em especial, o meio trabalhista, o secretário do Trabalho do Município do Rio de Janeiro, Everton Gomes, pretende promover, ainda no segundo semestre desse ano, o Fórum Internacional dos Empregos Verdes.

A ideia surgiu em sua recente viagem ao México onde representou o PDT no 94º aniversário do Partido Revolucionário Institucional (PRI), onde encontrou a deputada da cidade do México Tânia Larions, que propôs leis voltadas para a chamada Economia Verde. A partir desse encontro nasceu a proposta de um seminário que debaterá a criação dos chamados Empregos Verdes, isso é, de atividades que não colidam com o meio-ambiente e ajudem na redução das emissões de gás carbônico (CO2).

Na visão de Gomes, é preciso trazer esse Seminário para o Rio, ainda que com participação virtual de representantes de outras cidades, como forma de tornar a cidade carioca “um símbolo na luta por mais emprego verde”. Além da conversa inicial com a deputada Larions, ele também já levou a proposta a parlamentar de São José, na Costa Rica, outro de Canelones, no Uruguai e ainda conversa com políticos de Buenos Aires, na Argentina. Pretende buscar apoio de municípios brasileiros, a começar por Niterói, onde conversará com o geógrafo Luciano Paes, atual secretário do Clima, naquela cidade. “Faremos um esforço coletivo”, promete.

No entendimento dele, mesmo se sabendo que o país e o próprio Rio de Janeiro ainda dependerão, por um bom tempo, da economia petrolífera, não há dúvidas de que o mundo como um todo terá que se preparar para a redução (eliminação?) das emissões de CO2. Isso provocará mudança no ramo do trabalho.

À questão ambiental/climática, se juntará ainda as consequências da revolução digital que já afeta a qualidade e a quantidade de empregos. Unindo essas duas grandes transformações é que as sociedades terão que trabalhar.

“Essa questão climática nos exige pensar uma nova estruturação da questão produtiva no mundo. Portanto, também os empregos. Como vamos capacitar o trabalhador para que ele tenha uma nova possibilidade de reinserção no mercado de trabalho? Mercado esse impactado por essas duas transformações”, questiona Gomes.

Surge, então, a necessidade de criação dos chamados Empregos Verdes. Para tal, entende que as cidades precisam começar a se movimentar e discutir saídas.

“Empregos verdes são empregos de cadeias produtivas que mitigam a transformação climática, que renovam e reformam o meio ambiente. São empregos voltados para a economia menos predatória. Até o momento em que vivemos, o desenvolvimento se deu a partir de uma economia extremamente predatória, com atividades emissoras de CO2. Nos últimos anos se percebeu que a emissão de CO2 vai produzir uma série de transformações climáticas. Precisamos, até 2030, reduzir a emissão de carbono e para tal precisamos criar novas atividades produtivas”, explica.

Na própria área do petróleo e gás ele enxerga grandes possibilidades de mudanças, a partir da própria Petrobras.

“Defendo que a Petrobras vá fazendo uma transformação paulatina para deixar de ser meramente uma indústria petrolífera e se torne em um futuro, espero muito próximo, em uma grande empresa de energia limpa. A Petrobras já vem fazendo um movimento nesse sentido. Existem ali alguns biocombustíveis. Temos a questão do etanol que é uma tecnologia nacional. Temos o biodiesel, que é uma tecnologia nacional. Podemos trabalhar com a questão da biomassa, que é algo que hoje muito pouco se fala. Inclusive, a biomassa pode ser transformada em energia a partir de arranjos produtivos locais, da pequena propriedade. Enfim, não desconsidero a importância estratégica da Petrobras e sei que a indústria petrolífera no mundo é muito forte. Portanto é natural que tenha uma reação a uma transformação global, mas essa transformação global vai existir”.

Algumas dessas novas atividades voltadas para uma economia mais ecológica podem ser mais simples. Como um programa de reflorestamento de áreas devastadas das cidades. Programa que a prefeitura do Rio já executa há cerca de três décadas.

“É um projeto muito premiado mundialmente e que faz com que seja estabelecida uma estrutura produtiva. Criamos emprego e renda a partir da maior tecnologia de resgate de carbono conhecida até hoje na sociedade mundial, o reflorestamento”. Trata-se de um trabalho socioambiental da prefeitura do Rio de Janeiro. Ela banca uma renda, uma bolsa, para as pessoas serem inseridas no mercado de trabalho e promoverem o plantio de mudas e o restabelecimento da cobertura vegetal em áreas degradadas da cidade.

Há, porém, outras possibilidades. Como lembra o secretário na entrevista dada à TV 247 – Empregos verdes são possíveis?:

“Muita gente acha que emprego verde é somente aquilo que está ligado ao meio ambiente. Plantar uma árvore. Plantar uma árvore é um emprego verde, mas o motorista de ônibus é também um emprego verde. Por quê? Quantos carros um ônibus tira das ruas? São muitos carros. Logo, também é emprego verde, pois sua atividade será direcionada a impactar menos na emissão de carbono”.

Os exemplos que traz se multiplicam. Cita a iniciativa do município de Maricá atraindo uma planta industrial de montadora de ônibus elétricos. Fala também do desenvolvimento de baterias mais duradoras, mais ecológicas. Outra citação são as empresas que fazem os painéis fotovoltaicos, que capturam a energia solar. Entende que um trabalho conjunto do governo, com a iniciativa privada, as representações sindicais dos trabalhadores e as universidades, pode ajudar a desenvolver projetos mais econômicos do que a simples compra desses painéis das empresas chinesas, como ocorre hoje.

Enfim, ele acena com a necessidade de se iniciar o debate em torno da diversificarão da economia e substituição paulatina da dependência extrema da economia do Petróleo e Gás. Veja, abaixo, a íntegra da entrevista.