O caldeirão da violência

A violência tomou conta do Brasil nos últimos dias. Todos falam nela, mas poucos discutem suas razões. Isso porque assistimos a cenas às quais não estamos acostumados. Mas nos acostumamos com a omissão que, ao longo de séculos, vem produzindo a violência atual.
 
Ninguém se lembra de que aqueles que puxam o gatilho, explodem bancos e põem fogo a viaturas policiais e ônibus um dia viveram o tempo do sonho, da brincadeira, do lápis e da caneta. Foi a falta deles no passado que fabricou a maior parte dos bandidos de hoje.
 
Muitos teriam se tornado jovens pacíficos. Foram desviados de seu rumo, em alguns casos, por razões pessoais ou psicológicas, mas na imensa maioria por razões sociais.
A sociedade brasileira é uma fábrica de violência. Se não entendermos como ela funciona, poderemos até conseguir seu controle temporário. Mas cenas como as desta semana se repetirão e se agravarão.
 
Nosso país nasceu do seqüestro, do assalto. Os índios brasileiros tiveram suas terras tomadas. Durante quatro séculos, negros foram seqüestrados da África e trazidos para cá. Chamamos o seqüestro de economia, de agricultura, de produção. Mas na verdade, foi o seqüestro de escravos que construiu este país.
 
E não paramos aí. Libertamos os escravos, mas não lhes demos emprego, nem escola para seus filhos. A fábrica de violência continuou.
 
Vivemos o milagre do desenvolvimento econômico entre os anos 50 e 80. Mas os benefícios do crescimento ficaram com uma minoria, que concentrou renda, desapropriou os pobres, explorou os trabalhadores.
 
Construímos o Brasil com violência social. Investimos no crescimento econômico e demos as costas ao desenvolvimento social. Abandonamos a educação das crianças e a saúde da população. Construímos uma sociedade injusta, que não garante os direitos da maioria da população. O resultado, hoje visível, era esperado, deveria ter sido previsto.

Não estamos mais diante da violência comum.
 
O que enfrentamos hoje é uma forma de terrorismo, é violência pela violência, é crime para manter o crime. O que aconteceu em São Paulo tinha um único propósito: aterrorizar a polícia e a sociedade. Começaram matando policiais, para que eles tenham medo de desempenhar suas funções. Amanhã matarão juízes, em represália ao sistema judiciário; depois, assassinarão os políticos que aprovarem leis para dificultar suas atividades. E não adianta esperar que os governadores solucionem o problema. Ele não é mais estadual. A tragédia da violência é uma questão nacional, para a qual não bastam medidas circunstanciais.
 
A garantia da segurança tem de ser responsabilidade do governo federal. É preciso criar instâncias nacionais que enfrentem o terror que cresce no país. A Polícia Militar precisa ser um órgão federal, com recursos para armar os policiais, garantir-lhes o mesmo treinamento e padrão salarial, independente dos limites de recursos de cada Estado.
 
Mas isso não vai bastar. Não combatemos violência simplesmente prendendo bandidos.
 
Precisamos admitir que nosso desenvolvimento excludente criou o caldeirão e provocou a explosão. Além de melhorar nossas cadeias, devemos construir escolas, e parar a fábrica do crime, que continuará crescendo, se não tomarmos as medidas necessárias.
 
Não controlaremos a violência enquanto não pararmos a fábrica que é a sociedade brasileira. Mas o simples fechamento da fábrica não porá fim à violência de hoje, porque seu produto já está nas ruas, armado. Precisamos de medidas drásticas. Temos que frear o que a fábrica produziu.

A violência tomou conta do Brasil nos últimos dias. Todos falam nela, mas poucos discutem suas razões. Isso porque assistimos a cenas às quais não estamos acostumados. Mas nos acostumamos com a omissão que, ao longo de séculos, vem produzindo a violência atual.
 
Ninguém se lembra de que aqueles que puxam o gatilho, explodem bancos e põem fogo a viaturas policiais e ônibus um dia viveram o tempo do sonho, da brincadeira, do lápis e da caneta. Foi a falta deles no passado que fabricou a maior parte dos bandidos de hoje.
 
Muitos teriam se tornado jovens pacíficos. Foram desviados de seu rumo, em alguns casos, por razões pessoais ou psicológicas, mas na imensa maioria por razões sociais.
A sociedade brasileira é uma fábrica de violência. Se não entendermos como ela funciona, poderemos até conseguir seu controle temporário. Mas cenas como as desta semana se repetirão e se agravarão.
 
Nosso país nasceu do seqüestro, do assalto. Os índios brasileiros tiveram suas terras tomadas. Durante quatro séculos, negros foram seqüestrados da África e trazidos para cá. Chamamos o seqüestro de economia, de agricultura, de produção. Mas na verdade, foi o seqüestro de escravos que construiu este país.
 
E não paramos aí. Libertamos os escravos, mas não lhes demos emprego, nem escola para seus filhos. A fábrica de violência continuou.
 
Vivemos o milagre do desenvolvimento econômico entre os anos 50 e 80. Mas os benefícios do crescimento ficaram com uma minoria, que concentrou renda, desapropriou os pobres, explorou os trabalhadores.
 
Construímos o Brasil com violência social. Investimos no crescimento econômico e demos as costas ao desenvolvimento social. Abandonamos a educação das crianças e a saúde da população. Construímos uma sociedade injusta, que não garante os direitos da maioria da população. O resultado, hoje visível, era esperado, deveria ter sido previsto.

Não estamos mais diante da violência comum.
 
O que enfrentamos hoje é uma forma de terrorismo, é violência pela violência, é crime para manter o crime. O que aconteceu em São Paulo tinha um único propósito: aterrorizar a polícia e a sociedade. Começaram matando policiais, para que eles tenham medo de desempenhar suas funções. Amanhã matarão juízes, em represália ao sistema judiciário; depois, assassinarão os políticos que aprovarem leis para dificultar suas atividades. E não adianta esperar que os governadores solucionem o problema. Ele não é mais estadual. A tragédia da violência é uma questão nacional, para a qual não bastam medidas circunstanciais.
 
A garantia da segurança tem de ser responsabilidade do governo federal. É preciso criar instâncias nacionais que enfrentem o terror que cresce no país. A Polícia Militar precisa ser um órgão federal, com recursos para armar os policiais, garantir-lhes o mesmo treinamento e padrão salarial, independente dos limites de recursos de cada Estado.
 
Mas isso não vai bastar. Não combatemos violência simplesmente prendendo bandidos.
 
Precisamos admitir que nosso desenvolvimento excludente criou o caldeirão e provocou a explosão. Além de melhorar nossas cadeias, devemos construir escolas, e parar a fábrica do crime, que continuará crescendo, se não tomarmos as medidas necessárias.
 
Não controlaremos a violência enquanto não pararmos a fábrica que é a sociedade brasileira. Mas o simples fechamento da fábrica não porá fim à violência de hoje, porque seu produto já está nas ruas, armado. Precisamos de medidas drásticas. Temos que frear o que a fábrica produziu.