No bolsonarismo endêmico, doses de Brizola: “Diagnóstico das doenças que aí estão gerando tantas sequelas”


Por Bruno Ribeiro
22/04/2020

“É ser realista lutar contra o processo de espoliação e ir às causas, ir à profundidade, ir à doença para tratar desse grande enfermo (Brasil).” No plenário da Câmara dos Deputados, em 27 de março de 1963, o então parlamentar, Leonel Brizola, proferiu um discurso que ganha roupantes cada vez mais modernos e atuais, em um paralelo de palavras e realidades sobre o Brasil de hoje. Não somente pela expansão da pandemia do coronavírus (Covid-19), em 2020, mas também pelo combate à crise que pode ser classificada como “bolsonarismo endêmico”.

“Não demora a formação de uma expressiva unidade, neste país, em torno das causas verdadeiras, autênticas dos nossos males, do diagnóstico das doenças que aí estão gerando tantas sequelas, como também dos remédios da terapêutica que devemos adotar”, afirmou Brizola, defensor do então governo de João Goulart e das suas políticas sociais e econômicas para valorização do povo e da nação, explicitamente opostas ao que se percebe, recentemente, nas rotinas dos momentâneos ocupantes do Palácio do Planalto.

Nesse preâmbulo, com o meio científico, uma doença é classificada como endêmica (típica) quando acontece com muita frequência em um local. Considerando o potencial sazonal e degradante dos bolsonaristas, bem como todas as ações e irresponsabilidades assumidas pelo atual presidente da República, tende a aumentar a incidência da organização e mobilização nacional não somente nas redes socais ou plenários, mas também em manifestações – como os panelaços – e articulações político – sociais antes, durante e após o isolamento social.

“Preocupam a mim e a milhões de brasileiros que têm suas consciências queimando, inconformados em ter de conviver e coexistir com essa realidade inaceitável de nosso país”, bradava Brizola, ao ser aplaudido por deputados como Doutel de Andrade, que fazia questão de exaltar a relevância do posicionamento brizolista nos microfones do Congresso.

Terapia

O laudo e o tratamento – metafóricos – são traduzidos com vigor diante da solução que, para Brizola, é clara, mas segue com resistência diante de interesses restritos de uma parcela nacional.

“Bastaria que houvesse um pouco de compreensão neste País, por parte de alguns poucos, e estaríamos resolvendo amplamente as nossas dificuldades. Mas é justamente este egoísmo, estes sentimentos desumanos, talvez de menos de 500 mil brasileiros que estão altamente colocados nos escalões da nossa vida econômica e social e que enfeixam em suas mãos o poder de decisão, que tudo dificulta”, indica.

Sobre a realidade e as devidas posições, conclama para ações incisivas e necessárias para contornar o rumo que se acelerou desde 2018.

“Chamamento à responsabilidade deste Congresso, das classes dominantes, dos que detém o poder real deste país nas mãos, dos que com um pouco de generosidade apenas poderiam encaminhar a nossa realidade para outros rumos, outras perspectivas, eu o faço vivendo esta autenticidade”, acrescenta.

Diante da transparência com os “pacientes”, por tantos reconhecida como peculiar, o representante do trabalhismo recapitulou sua coerência em cada posição assumida ao longo da vida que ainda seguiu por décadas até o novo século.

“Tenho como poucos talvez serviços prestados à ordem democrática e às liberdades públicas neste país, serviços pres- tados à defesa da Constituição, à defesa deste direito, que aqui estamos vivendo, de nos reunir livremente nesta Casa.”