Não é em nome do povo

Os escândalos protagonizados pelo Senado Federal espelham o lado sombrio e coronelista da política brasileira. As biografias públicas que se confundem nos porões das assinaturas secretas revelam a face de mandatos descomprometidos com o povo.

Mais um na sucessão do trono dos excessos, o presidente do Senado, José Sarney, não está por acaso neste momento carregando o bastião da excelência em qualidade e produtividade na nomeação de apadrinhados e amigados políticos. Ele vem de longe cumprindo esse papel no abelheiro da imatura democracia pátria. Desde os primeiros passos que nos distanciaram da sombria noite da ditadura estava o maranhense posicionado em posto estratégico, homenzinho de fogo que sobrevoou com sabedoria os labirintos da capital federal e dos interesses regionais para ferroar-se no poder como marimbondo eterno da democracia.

Os desmazelos do ex-governador do Maranhão que é atualmente senador pelo Amapá – uma estranha distorção geográfica-eleitoral que retira poder de um minúsculo estado nacional para manutenção de décadas de poder político-familiar – coincidem com a herança social que construiu para deixar aquele o estado mais atrasado de nossa Federação.

Nascido enquanto Getúlio Vargas marchava na Revolução de 30, o udenista José Ribamar chegou a tropeçar na reforma agrária e até defendeu Jango do golpe militar. Mas o coronel venceu o democrata e o mandato como governador dos pobres do Maranhão acarpetou o futuro do senador, principal representante político do regime militar. Foi nessa condição que ele migrou do PDS que fundara em 1979 para o PMDB em 1984, superando seus ancestrais políticos e avançando em triunfo sobre Brasília. A morte de Tancredo Neves o levou à presidência da República. Foi incapaz de conter o caos econômico em que mergulhou o país, mas garantiu novos mandatos no Senado, que preside pela terceira vez. Trouxe pela mão a filha, a quem ensinou as lições de moral e civismo da política brasileira.

É cedo ainda para afirmar que a retomada do poder pelos Sarney no Maranhão tenha semelhança com as ações secretas agora desvendadas no Senado, mas o espetáculo de Brasília oferece elementos para a dúvida.

Mais ou menos assim Leonel Brizola, se estivesse vivo, estaria refletindo sobre o cenário nacional.

Francis Maia
Jornalista

Os escândalos protagonizados pelo Senado Federal espelham o lado sombrio e coronelista da política brasileira. As biografias públicas que se confundem nos porões das assinaturas secretas revelam a face de mandatos descomprometidos com o povo.

Mais um na sucessão do trono dos excessos, o presidente do Senado, José Sarney, não está por acaso neste momento carregando o bastião da excelência em qualidade e produtividade na nomeação de apadrinhados e amigados políticos. Ele vem de longe cumprindo esse papel no abelheiro da imatura democracia pátria. Desde os primeiros passos que nos distanciaram da sombria noite da ditadura estava o maranhense posicionado em posto estratégico, homenzinho de fogo que sobrevoou com sabedoria os labirintos da capital federal e dos interesses regionais para ferroar-se no poder como marimbondo eterno da democracia.

Os desmazelos do ex-governador do Maranhão que é atualmente senador pelo Amapá – uma estranha distorção geográfica-eleitoral que retira poder de um minúsculo estado nacional para manutenção de décadas de poder político-familiar – coincidem com a herança social que construiu para deixar aquele o estado mais atrasado de nossa Federação.

Nascido enquanto Getúlio Vargas marchava na Revolução de 30, o udenista José Ribamar chegou a tropeçar na reforma agrária e até defendeu Jango do golpe militar. Mas o coronel venceu o democrata e o mandato como governador dos pobres do Maranhão acarpetou o futuro do senador, principal representante político do regime militar. Foi nessa condição que ele migrou do PDS que fundara em 1979 para o PMDB em 1984, superando seus ancestrais políticos e avançando em triunfo sobre Brasília. A morte de Tancredo Neves o levou à presidência da República. Foi incapaz de conter o caos econômico em que mergulhou o país, mas garantiu novos mandatos no Senado, que preside pela terceira vez. Trouxe pela mão a filha, a quem ensinou as lições de moral e civismo da política brasileira.

É cedo ainda para afirmar que a retomada do poder pelos Sarney no Maranhão tenha semelhança com as ações secretas agora desvendadas no Senado, mas o espetáculo de Brasília oferece elementos para a dúvida.

Mais ou menos assim Leonel Brizola, se estivesse vivo, estaria refletindo sobre o cenário nacional.

Francis Maia
Jornalista