Violência invisível


Por Martha Rocha
Da Redação
08/06/2021

Entre 2010 e 2020, mais de 100 mil crianças e adolescentes morreram no País, vítimas de agressão

Quando falamos em violência doméstica logo pensamos nas mulheres como vítimas. Mas elas não são as únicas que sofrem agressões covardes dentro da própria casa. No Brasil, crianças e adolescentes também protagonizam histórias cruéis de todo tipo de violência, permeadas de ódio e atrocidades. Eles vivem uma rotina de abusos e barbaridades que, na maioria das vezes, ficam silenciadas entre os cômodos dos lares. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entre 2010 e 2020, pelo menos 103.149 crianças e adolescentes com idades de até 19 anos morreram no País vítimas de agressão. Do total, cerca de duas mil vítimas tinham menos de quatro anos. Os números jogam na nossa cara uma realidade difícil de aceitar e, sobretudo, de combater. As vítimas não conseguem romper o silêncio porque estão submissas ao poder de seus agressores e, às vezes, enxergam neles referências de cuidado e afeto. O medo e a culpa falam mais alto.

O resultado de tanta covardia, dizem os especialistas, são irreparáveis e pode afetar significativamente o futuro das vítimas. Problemas emocionais, psicológicos, sociais e cognitivos ocorrem em todas as fases da vida. Em relação à saúde mental, as consequências podem ser: ansiedade, transtornos depressivos, alucinações, baixo desempenho na escola e tarefas de casa, alterações de memória, comportamento agressivo e defensivo. 

Neste mês de junho, quando é lembrado o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão, precisamos falar sobre o tema. Conscientizar a sociedade de que todos nós podemos e devemos ajudar. É importante que toda a população conheça os canais de denúncia e não se cale diante da violência. É necessário ainda cobrar dos governos que políticas públicas de serviços de proteção à criança e ao adolescente funcionem com eficiência.

Com a pandemia do coronavírus e as necessárias medidas de isolamento social e confinamento domiciliar, crianças e adolescentes estão sob risco ainda maior de sofrer violência física, sexual e psicológica. A intensa convivência familiar, a sobrecarga de tarefas domésticas e home office ou a falta de emprego e renda podem ser geradoras ou agravantes de conflitos e violências em muitas casas. 

Em 2020, o país atingiu o maior número de denúncias de violência contra crianças e adolescentes desde 2013. Foram 95.247 denúncias no Disque 100, média de 260 novas denúncias a cada dia. Em 67% delas, o cenário da violência contra a vítima é a casa onde ela mora com o agressor. Os principais tipos são: negligência (37%), violência psicológica (21%), violência física (25%) e sexual (13%).

No Rio, denúncias e registros podem ser feitos na Delegacia da Criança e Adolescente Vítima, pioneira em escuta protegida. A denúncia pode salvar vidas e oferecer às vítimas a chance de recomeçar.

*Martha Rocha é deputada estadual (PDT-RJ) e presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).