Legado de Mário Juruna impulsiona Movimento Indígena do PDT


FLP-AP/Bruno Ribeiro
20/04/2017

“Só falta a gente voltar a gravar de novo as promessas do homem branco”, ponderou Rafael Weree, presidente nacional do Movimento Indígena do PDT (Movi-PDT), ao relembrar o uso do gravador pelo seu avô, Mário Juruna, cacique Xavante que foi o primeiro e único deputado federal indígena do Brasil. Na entrevista para a Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini (FLP-AP), Weree fez um resgate do legado do líder pedetista, analisou as políticas públicas para os índios e criticou a instabilidade gerada pelo governo Temer na democracia nacional.

O país reúne, atualmente, cerca de 900 mil indígenas, que estão espalhados por todas as regiões do país. Nesse cenário, o responsável por mobilizar a militância desse segmento apresenta um diagnóstico preocupante.

“Desde 1500, estamos na luta para manter a nossa população, tradição e floresta. Hoje, nós enfrentamos dificuldades ainda maiores, se comparado ao período do meu avô (década de 1980). Essa situação é ocasionada pela falta de liderança no meio político para defender a nossa população e os nossos direitos”, afirmou.

Para reverter o panorama calamitoso, Weree indicou que o planejamento inclui levar ferramentas, como os cursos de formação política da Universidade aberta Leonel Brizola (ULB), diretamente para as aldeias. “Formamos turmas em Mato Grosso e muitos já receberam até o diploma. Nossa população precisa saber quem são os nossos adversários nesse campo. Muitas vezes, por inocência e assédio dos políticos locais, a gente acaba votando nesses pessoas que trabalham contra nós”, disse.

“No passado, tivemos um líder político que alcançou o cargo de deputado federal. Desta vez, nós queremos aumentar o número de figuras representativas. Esse caminho, iniciado lá trás, está sendo construído e fortalecido com a participação dos jovens indígenas no partido, que conta, agora, com o MoviPDT. Assim, nós poderemos gritar pelo nosso povo e pelos nossos direitos com gente preparada”, assegurou, ao convidar a população para ingressar na sigla.

 

Juruna

Segundo Weree, Juruna fez história no Brasil a partir de uma candidatura fortalecida por Leonel Brizola. “Foi uma grande sacada de líderes do Trabalhismo, como Brizola e Darcy Ribeiro,  que ajudaram o  meu avô a entrar na política. Ele já era cacique da terra indígena São Marcos, onde liderava uma comunidade Xavante. Por tantos problemas enfrentados naquele tempo, eles encontraram também um grande homem, que lutava pelas causas sociais”, exaltou.

“Nós estamos trabalhando na perspectiva de eleger, novamente, um novo parlamentar para o Congresso, mas, no primeiro momento, é preciso oferecer formação e conhecimento para o nosso povo. Assim, será um diferencial para fortalecer a nossa luta e garantir um voto consciente”, acrescentou.

Política

“Nesse mundo, não precisamos radicalizar o ponto de vista, porém existem pautas que devem ser discutidas, e não atropeladas, pois nossos direitos estão garantidos na Constituição”, ressaltou Weree, ao ratificar a falta de respeito de parte da sociedade, da classe política e até do Judiciário.

“Eu posso dizer, pela experiência também, que, no povo brasileiro, muitas famílias humildes valorizam a existência dos indígenas como povo originário. Porém, existe uma classe, com até doutorado, não tem a humildade de reconhecer”, lamentou.

Governo

Inconformado com o avanço de políticas públicas danosas para o segmento, o presidente do MoviPDT criticou também a tentativa de retirada de direitos a partir de um paralelo com uma famosa declaração de um deputado federal. “Tiririca se enganou ao falar que pior do que está, não fica. Para nós, indígenas, o que está ruim ficou pior. Se estão querendo tirar direitos dos trabalhadores, do povo brasileiro, imagina para nós, o que pode vir ainda”, observou.

Reservas

Ao analisar a reiterada tentativa de representantes do agronegócio e da mineração de ocupar reservas indígenas asseguradas, na sua grande maioria, pela legislação brasileira, Weree aponta para a possibilidade real de eliminação de milhares de tribos e de destruição do meio ambiente.

“Essa questão é complexa, representa uma ameaça e não tem limite o crescente avanço do agronegócio, responsável pelo intenso desmatamento. Não é só a nossa vida que está em jogo, mas os nossos recursos naturais também. Os venenos utilizados (pelas indústrias) nos alimentos acabam chegando aos rios, onde nós coletamos água e tomamos banho”, concluiu.