“João Goulart é o Brasil que não aconteceu, pois nosso país seria muito mais avançado”


Osvaldo Maneschy e Apio Gomes
06/05/2019

O deputado federal Darci Pompeo de Mattos, presidente do PDT gaúcho, tinha apenas sete anos de idade quando Jango foi deposto pelos militares, em 1964. Nascido e criado em família trabalhista de Vila Coroados, no interior gaúcho – filho de pai getulista, janguista e brizolista –, não tem dúvida em afirmar que o presidente João Goulart “é o Brasil que não aconteceu; porque se tivesse sido Presidente, na verdadeira acepção, o Brasil seria outro”.

Seus pais foram assentados da reforma agrária de Brizola e, por isto, acompanhou a trajetória do presidente João Goulart desde jovem, pelo que o pai lhe dizia; e depois pelos livros de História. “Pessoalmente não convivi com Jango, mas lembro quando meu pai foi a São Borja para o sepultamento do presidente: um grande homem, grande político, gestor de grande coração”.

Pompeo de Mattos também aprendeu em casa a importância da campanha da Legalidade na defesa do mandato do presidente João Goulart, quando militares golpistas tentaram impedir sua posse; acusando-o, inclusive, de ser comunista. “A Legalidade foi um ato de coragem ímpar de Brizola, porque ele deu a cara a tapa, ao liderar o levante dos gaúchos na defesa da Constituição”, mesmo que fosse necessário derramamento de sangue.

Jango e Brizola eram homens, garante Pompeo, muito adiantados para o seu tempo; assim como as reformas de base defendidas por Jango, na Presidência, que soaram para a elite, especialmente a militar, como inconcebíveis e impossíveis: “As reformas de base formavam um conjunto, para aquele momento do Brasil, além do tempo”.

Segundo Pompeo de Mattos, se as reformas de base tivessem acontecido, não viveríamos a ditadura de mais de 20 anos e o Brasil de hoje seria outro: muito mais avançado. Argumentou que Jango era pessoa preparadíssima quando se tornou Ministro do Trabalho, “no momento mais importante de Getúlio Vargas”. Depois, indicado por Getúlio antes de a crise de agosto de 54, torna-se candidato a vice-presidente e se elege junto com Juscelino Kubitschek. De acordo com a legislação época, passa a presidir o Senado Federal.

Depois, se elege novamente vice-presidente da República – até com mais votos do que o presidente eleito, Jânio Quadros, apoiado pela UDN. Jânio durou poucos meses. Depois, Jango passou a tocar o seu próprio governo. “Ninguém se preparou tanto para governar quanto Jango se preparou”, garante Pompeo de Mattos.

“Ao contrário de Jango, Jânio Quadros não tinha preparo para governar e renunciou à presidência por causa das forças ocultas – forças que se revelaram para Jango”, que se viu obrigado a superar obstáculos como o plebiscito, que restaurou o presidencialismo.

Os conspiradores de 61, destacou Pompeo, continuaram conspirando e não perderam a sanha golpista. Tanto que, mais estruturados em 64, desferiram novo golpe. “Jango não quis o derramamento de sangue e preferiu o exílio” – explicou Pompeo de Mattos.

Na opinião de Pompeo de Mattos, o legado de Jango é grande e são muitas as lições que deixou. “O governo de Jango foi curto, mas foi um dos homens que mais influenciaram o Brasil. Jango foi protagonista no governo de Getúlio Vargas, no governo do presidente Juscelino Kubitschek e escreveu o seu próprio nome na História em um dos momentos mais importantes que o Brasil viveu”. Por isto, em sua opinião, no centenário de seu nascimento, “é hora de retomar tudo isto. Até porque Jango sempre valorizou os trabalhadores, sempre fez a simbiose do capital com o trabalho”.

Segundo Pompeo, Jango amava o povo e por ele daria a vida, iria à guerra. Mas o povo que amava estava desarmado e, por isto, preferiu o exílio ao derramamento de sangue. “Jango é o Brasil que não aconteceu”.

Confira a entrevista completa abaixo: