Interruptores e tomadas: partido, política e ativismo


Por William Rodrigues
30/05/2018

O equilíbrio do planeta Terra, neste infinito universo, só é possível pela existência da dualidade: do peso e antipeso, da matéria e antimatéria, noite e dia; norte e sul. Este sistema dual define todos os outros, independente do campo de ocorrência.

Em nossa casa, em nosso local de estudo ou de trabalho, convivemos, diuturnamente, com os polos geradores da energia elétrica, que podem ser definidos por interruptor e tomada – frutos da mesma díade: positivo e negativo.
No campo humano, Interruptor e tomada materializam dois grandes blocos de ação: a atitude e a passividade.

Quando você aperta um interruptor, espera que, mecanicamente, as luzes se acendam; ao conectar uma tomada, busca energia para abastecer um equipamento – da mais simples engenhoca ao mais sofisticado acelerador de partículas.

Nas diversas atividades políticas – partidária, sindical, filantrópica etc. –, que definem o homem como objetivo final, a busca pela quebra do equilíbrio dual sempre deve ser perseguida. No caso de um partido político, esta tarefa cabe aos ativistas.

No nosso caso particular, nós, os ativistas pedetistas, temos o compromisso de levar nossas bandeiras ao interior profundo da vida brasileira: o Brasil profundo de que nos falou Brizola. Mas, para isto, cada um de nós precisa entender que, para objetivo ser alcançado, sua função é de ser a tomada; nunca o interruptor. E a energia desta tomada é provinda do conhecimento das causas trabalhistas.

Por isto, os fóruns do Partido devem servir como a usina de energia política, pois um partido vivo, como o PDT, reúne em sua gente a síntese do povo brasileiro – e era deste estrato social que nosso líder Leonel Brizola se carregava para construir sua interpretação do processo social e definir sua política macro.

Geralmente, o filiado, o militante espera que o PDT imprima um ritmo de agendas e atividades que o torne ativista; ou seja: um interruptor. O que ele não percebe é que um partido se assemelha ao corpo humano: depende que cada órgão (filiado) funcione perfeitamente para que tenha uma vida saudável.

Na verdade, cabe ao filiado, militante, ativista (ou qualquer outro termo a ser usado) se valer da política construída nos fóruns pedetistas para abastecer-se de conteúdo; e fazer isto reverberar na sociedade, construindo agendas, fóruns, eventos, atividades que disputem corações, mentes e territórios para fora dos muros do Partido.

Quando isto ocorre, pode-se afirmar, nesta analogia, que o Partido cumpriu o papel de tomada, na qual este ativista carregou – ou recarregou – suas energias, sua narrativa e conteúdo político para, de forma cíclica, continuar atuando para além das plenárias do Partido. E mais: trouxe cargas, para realimentar as discussões teóricas, adquiridas no exercício de sua militância, em campo de atividade. Se este sistema de dupla troca funcionar, pode ser equivalente àquele moto-contínuo que os cientistas tanto perseguiram.

A ação política está sendo ressignificada com a velocidade da luz: o século XXI cria novos cenários e formatos de ativismo, de forma cada vez mais dinâmica. E os atores sociais que não identificarem isto – e não mudarem a chave, na forma como constroem suas ações – serão extintos. Ao Partido, enquanto instituição aglutinadora, cabe ser cada vez mais tomada e menos interruptor.

Como órgãos vitais deste sistema integrado que é o PDT, os movimentos sociais organizados – que participam das reuniões deliberativas dos diretórios, com voz e voto – devem se fortalecer e cumprir o mesmo papel de tomada, como uma espécie de osmose partidária.

Em nosso caso específico, cabe à direção nacional da Juventude Socialista pautar a agenda política do nosso segmento, produto de debates nacionais e regionalizados; o maior número possível. E as demais instâncias da JS – estaduais e municipais – e seus militantes devem se transformar não em tomada; mas em filtros de linha para construir a luta cotidiana daquelas pautas.

Se o método vai ser a panfletagem ou projeções urbanas, o importante é que se faça luta. E só haverá luta real e disputa de consciências se os ativistas políticos do PDT usarem, cada vez mais, tomadas; e menos interruptores.

Em tempo
E que não confunda – neste artigo – a defesa de um partido com papel indutor de políticas e lutas sociais com uma defesa da substituição dos partidos por outros atores e novas organizações.

Consagrou-se dividir os membros de um partido em três grandes grupos: a) filiado – aquele que, em algum momento, preenche e assina uma ficha de filiação (não participa da vida partidária); b) militante – o que se engaja, visita o Partido numa ou outra reunião, vota nos candidatos do PDT (assemelha-se, em religião, ao “não praticante”: só vai à igreja esporadicamente); e c) ativista: aquele que todo partido quer ter.

Nossos ativistas: aqueles que vestiram a camisa – se engajam; participam das disputas da sociedade; levam a mensagem do PDT para fora do Partido; ou seja: transformam seu tempo livre em tempo útil, na causa do brizolismo. E muito mais!

Estes, com certeza, constroem o PDT como tomada; nunca enxergarão o partido como interruptor. Abastecem-se de boa política, de um projeto nacional, da superação das desigualdades, da soberania nacional, da igualdade de oportunidades; e vão, como quixotes, ganhar a sociedade e protagonizar o processo social.

 

*William Rodrigues é presidente nacional da Juventude Socialista do PDT.