Guilherme Estrella em Natal: ‘União precisa ajudar a Petrobras’

A soberania energética brasileira “está nas mãos do pré-sal”, a afirmação é do ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella, que esteve ontem (28/3) em Natal participando de uma palestra no Auditório da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

“É uma riqueza brasileira, descoberta por brasileiros e à disposição do desenvolvimento do país. O pré-sal tem reservas suficientes para suportar situações limites de questões energéticas ao longo do século 21”, frisou o geólogo que trabalhou na estatal por mais de 40 anos e é considerado o “pai do pré-sal”.

Estrella é hoje um dos principais expoentes na defesa da Petrobras, contra a privatização da companhia, além de defensor do governo da presidente Dilma Rousseff. Ele destacou, ainda, que a descoberta das reservas petrolíferas em águas profundas colocou o Brasil numa realidade geopolítica diferenciada, que está sob risco atualmente.

 

Na palestra no auditório da UFRN, Estrella lembrou que reservas colocam Brasil em novo patamar da geopolítica.

Ao longo da palestra, organizada pelo Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras do Rio Grande do Norte (Sindipetro/RN), Guilherme Estrella teceu críticas ao projeto de lei do senador José Serra, que discorre sobre a divisão dos recursos oriundos da exploração do pré-sal.

O geólogo destacou que estes recursos deveriam financiar pesquisas de médio e longo prazos que visem garantir o suprimento energético para uso interno e evitar a importação de energia de países vizinhos, o que faz com o Brasil perca soberania. “O pré-sal é lucrativo, quando analisamos os custos de produção, que giram em torno de oito dólares e meio”, assegurou. Ele não deixou de mencionar, contudo, os problemas que envolvem a companhia.

Para o ex-diretor da estatal, a dívida de aproximadamente R$ 100 bilhões acumulada pela Petrobras é hoje o maior problema. “Ela deve ser paga com ajuda da União”, sugeriu Guilherme Estrella.

Isto porque, segundo explicou, as pesquisas desenvolvidas pelos técnicos, engenheiros e analistas da Petrobras contribuíram para colocar o Brasil num patamar elevado quando da análise da tecnologia hoje operacionalizada nos campos de águas profundas, por exemplo. “A Petrobras foi a primeira empresa no mundo a desenvolver e operar tecnologia de exploração de petróleo em águas profundas no mundo. Toda a Bacia de Campos opera com tal tecnologia”, relembrou.

Relembrando que o Brasil adquiriu autossuficiência pontual na exploração de petróleo em 2006, Guilherme Estrella defendeu que o Brasil não pode perder dinheiro para empresas estrangeiras, pois o pré-sal não é mais um negócio arriscado, é uma realidade lucrativa. “Não havia risco de remunerar o investidor pois não havia mais risco de não se achar petróleo no pré-sal”, disse.

Para ele, o maior risco enfrentado pela nação é relacionado à possibilidade de perda do controle da exploração e distribuição do petróleo extraído nas reservas do pré-sal, a partir do projeto de lei apresentado pelo senador Tarso Jereissati (PSDB/CE), que depende de aprovação no Senado Federal.

O geólogo não tocou em assuntos polêmicos, como a Operação Lava Jato e o envolvimento de ex-diretores nos esquemas de desvios de recursos. A maioria deles trabalhou, direta ou indiretamente, com Guilherme Estrella. Estrella também não discorreu sobre a possibilidade de venda de campos de petróleo no Rio Grande do Norte.

Estrella destacou, contudo, que a Petrobras não tem interesse em se desfazer dos campos terrestres e operacionalizar somente o pré-sal, pois eles também são rentáveis. A palestra teve como principal viés a defesa do pré-sal e posição geopolítica do Brasil em decorrência da descoberta dessas reservas em águas profundas, com o consequente desenvolvimento de alta tecnologia para exploração.

O evento, acompanhada por estudantes universitários, servidores da Petrobras, lideranças sindicais e professores da UFRN, serviu também para a defesa do governo da presidente Dilma Rousseff. Em diversos momentos, a plateia interrompia a apresentação e entoava, em uníssono: “Não vai ter golpe”.

Geólogo formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Guilherme Estrela trabalhou como geólogo na Petrobras por mais de 40 anos. No Brasil e exterior, exerceu cargos de relevância. De 2003 a 2012 foi diretor de exploração e produção da Petrobras, quando foram realizados os anúncios sobre as imensas reservas de petróleo e gás em águas profundas, o que conferiu a Guilherme Estrella o título de “pai do pré-sal”.