É preciso salvar o Arrudas

As últimas inundações na cidade mostraram as precariedades da canalização e do saneamento de nossos cursos d’água e suas conseqüências para a população. Desde muitos anos, predominou a idéia de que os córregos e lagos são um problema para o crescimento urbano e por isso devem ser encobertos, dando lugar a pistas pavimentadas para a circulação de veículos. Hoje, dos primeiros, praticamente só nos resta o Arrudas, e assim mesmo já enterrado em parte, a fim de ser integrado no projeto da Linha Verde. Com alguns dos lagos aconteceu fenômeno parecido, a exemplo do que deveria existir no bairro Belvedere, cujo drama atual se traduz em seu próprio nome: Lagoa Seca. Na Lagoinha, havia outra lagoa – daí sua denominação – soterrada ainda ao tempo da construção da Capital.

Agora estão planejando mais uma agressão à cidade: estender a pavimentação do Arrudas até o Calafate, com o alegado objetivo de facilitar o trânsito de automóveis para a futura (ou ex-futura?) Estação Rodoviária. Alguns especialistas já advertiram para os riscos de grandes inundações, atingindo também as áreas centrais. É a opinião do professor da Escola de Engenharia da UFMG, Nilo Nascimento, em entrevista a este jornal. “O cimento”,  disse ele, “tende a impedir o retorno das águas para o leito. Com isso, as conseqüências de um transbordamento na via pública podem ser maiores”.

Os rios e córregos não foram feitos para correr aprisionados por debaixo do cimento das ruas e praças. Além do processo natural de drenagem que realizam, são elementos altamente ornamentais, decorativos, que desde os tempos mais remotos valorizam e enobrecem a paisagem urbana. Alguém poderia imaginar Paris sem o Sena ou Londres sem o Tâmisa, para ficarmos apenas nesses dois exemplos? Nem São Paulo, cuja fúria destruidora é igual ou maior que a nossa, teve coragem de sepultar o Tietê.

O que precisamos fazer com o Arrudas, o “Ribeirão Grande”, como era chamado pelos antigos moradores, é saneá-lo e recuperá-lo, para que se transforme numa grande via, florida e de águas limpas, como um jardim cruzando a cidade de leste a oeste, e oferecendo diferentes modalidades de lazer à população.

Apesar de aviltado e degradado pelas agressões sofridas ao longo do tempo, o Arrudas tem um papel inapagável na história de Belo Horizonte. Foi em torno dele e de seus numerosos afluentes que a cidade se fez.

Quando caminho pelo Parque JK, no alto das Mangabeiras, e vejo o que ainda resta do riacho do Acaba Mundo, todo tratado e ajardinado, contornando a praça com suas águas reluzentes, fico pensando como Belo Horizonte seria bem mais linda e aprazível, não tivessem estupidamente assassinado muitos de seus córregos e lagos.

É hora de agir para salvar o Arrudas e evitar mais um atentado à história e ao patrimônio urbanístico, cultural e ecológico de Belo Horizonte.

(*) José Maria Rabêlo, fundador do PDT, é jornalista.

As últimas inundações na cidade mostraram as precariedades da canalização e do saneamento de nossos cursos d’água e suas conseqüências para a população. Desde muitos anos, predominou a idéia de que os córregos e lagos são um problema para o crescimento urbano e por isso devem ser encobertos, dando lugar a pistas pavimentadas para a circulação de veículos. Hoje, dos primeiros, praticamente só nos resta o Arrudas, e assim mesmo já enterrado em parte, a fim de ser integrado no projeto da Linha Verde. Com alguns dos lagos aconteceu fenômeno parecido, a exemplo do que deveria existir no bairro Belvedere, cujo drama atual se traduz em seu próprio nome: Lagoa Seca. Na Lagoinha, havia outra lagoa – daí sua denominação – soterrada ainda ao tempo da construção da Capital.

Agora estão planejando mais uma agressão à cidade: estender a pavimentação do Arrudas até o Calafate, com o alegado objetivo de facilitar o trânsito de automóveis para a futura (ou ex-futura?) Estação Rodoviária. Alguns especialistas já advertiram para os riscos de grandes inundações, atingindo também as áreas centrais. É a opinião do professor da Escola de Engenharia da UFMG, Nilo Nascimento, em entrevista a este jornal. “O cimento”,  disse ele, “tende a impedir o retorno das águas para o leito. Com isso, as conseqüências de um transbordamento na via pública podem ser maiores”.

Os rios e córregos não foram feitos para correr aprisionados por debaixo do cimento das ruas e praças. Além do processo natural de drenagem que realizam, são elementos altamente ornamentais, decorativos, que desde os tempos mais remotos valorizam e enobrecem a paisagem urbana. Alguém poderia imaginar Paris sem o Sena ou Londres sem o Tâmisa, para ficarmos apenas nesses dois exemplos? Nem São Paulo, cuja fúria destruidora é igual ou maior que a nossa, teve coragem de sepultar o Tietê.

O que precisamos fazer com o Arrudas, o “Ribeirão Grande”, como era chamado pelos antigos moradores, é saneá-lo e recuperá-lo, para que se transforme numa grande via, florida e de águas limpas, como um jardim cruzando a cidade de leste a oeste, e oferecendo diferentes modalidades de lazer à população.

Apesar de aviltado e degradado pelas agressões sofridas ao longo do tempo, o Arrudas tem um papel inapagável na história de Belo Horizonte. Foi em torno dele e de seus numerosos afluentes que a cidade se fez.

Quando caminho pelo Parque JK, no alto das Mangabeiras, e vejo o que ainda resta do riacho do Acaba Mundo, todo tratado e ajardinado, contornando a praça com suas águas reluzentes, fico pensando como Belo Horizonte seria bem mais linda e aprazível, não tivessem estupidamente assassinado muitos de seus córregos e lagos.

É hora de agir para salvar o Arrudas e evitar mais um atentado à história e ao patrimônio urbanístico, cultural e ecológico de Belo Horizonte.

(*) José Maria Rabêlo, fundador do PDT, é jornalista.