Direção da JS-PDT se reúne com Lupi e avalia momento político

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, reuniu-se com os principais dirigentes da Juventude Socialista do PDT, na última terça-feira (3/7), na sede do Partido em Brasília, para avaliar as manifestações de rua que se espalharam por todo o país; foram discutidas também as principais reivindicações da direção da JS-PDT para fortalecer a atuação dela na sociedade e nas redes sociais.

Entre outros resultados concretos, ficou definido que a Direção Nacional vai apoiar e estimular a realização, nos diferentes estados, de retiros de estudos da JS-PDT, para troca de informações e organização de seminários, além de apoio a ações políticas concretas e objetivas, previamente discutidas com a Executiva do PDT, protagonizadas pela Juventude.

Lupi abriu o encontro, que durou mais de três horas, relatando que há muita gente que teme enfrentar o grande problema do Brasil no momento, que é, em sua opinião, a voracidade do sistema capitalista – responsável, entre outros problemas da atualidade, pela exagerada elevação das tarifas de transporte público muito acima da inflação. “O momento é delicado e difícil, porque há muitos com certezas absolutas, o que é muito perigoso”, advertiu.

Ele acrescentou:

“Estou aqui para conversar com vocês, ouvi-los; quero que façam um retrato – cada um de vocês – do que está acontecendo. É preciso politizar os fatos e temos que avançar na política. Quero ouvi-los, quero discutir”.

Na opinião de Lupi, a mídia está carregando nas cores. Sua preocupação – e por isto tem conversado com todas as instâncias do PDT – no momento é fortalecer a democracia, fortalecer as instituições. “Só tenho uma certeza: é preciso mudar o Brasil; e mudar para melhor”. Lupi prosseguiu:

“Nunca vi pessoas deixarem o futebol de lado no Brasil – um campeonato internacional – pela política. Somos o país do futebol. Só a maciça presença de pessoas nas manifestações durante a Copa das Confederações já foi uma revolução. Armas foram substituídas por computadores, por protagonismo nas redes sociais. Mais de 10 grandes prefeituras reduziram as tarifas de transporte; e o Congresso começou a vogar projetos que dormiam nas gavetas. Em termos de Brasil, Isto é ou não uma revolução”?

O primeiro a falar pela JS-PDT foi o presidente nacional da Juventude, Luiz Marcelo, de Santa Cantarina. Em sua avaliação, a crise é do sistema; até porque as perdas internacionais que Brizola sempre denunciou, “estão aí para todos verem”. Um problema que o preocupa é que o movimento das ruas não tem lideranças “e agora que a boiada estourou”, ninguém segura.

“Temos que disputar essa galera, temos que ter pessoas preparadas em todos os lugares do Brasil para participarmos das manifestações e nos tornarmos referência. Temos que puxar o debate, a discussão, porque há muita gente perdida dentro do movimento”, disse.

Acrescentou que “o mais constrangedor é ver que se trata também de uma luta individualista, cheia de artimanhas. Um está nas ruas por causa da namorada; outro, contra a corrupção; outro, contra as tarifas; outro, contra a mídia etc. A questão é que não existe razão única. Temos que entender melhor os fatos discutindo-os; temos que ter coragem de mergulhar na discussão, sem porém hostilizar manifestantes, para que possamos avançar”, observou.

Joelma, dirigente da JS do Amapá, falou em seguida. Ela criticou diretamente os gestores públicos que falham em suas funções, por falta de transparência nas suas ações. “Quando a gente vê pessoas falharem em suas obrigações, compreendemos melhor a necessidade de que os partidos sejam cada vez mais ideológicos, cada vez mais compenetrados e sérios na aplicação de seus programas e objetivos”, argumentou.

Já o presidente da JS do Ceará, Júlio Brizi – questionado por Lupi sobre como o PDT pode se inserir ainda mais nos movimentos – explicou: “Acho muito difícil esta inserção de imediato, porque vivemos um momento histórico e complicado ao mesmo tempo. Vendo os jogos pela TV, por exemplo, me questionei sobre o quê levou a Globo a cortar a transmissão do jogo para falar de manifestações. Perguntei a mim mesmo: onde estou? Temos que prestar atenção nisto também, porque houve esta ruptura do comportamento coletivo. Exatamente por isto, temos que nos modernizar, criar instrumentos, dar mais foco à juventude. Temos que chegar a essa galera e trazê-la para o PDT”.

Falando em seguida, William Oliveira, da JS-RJ, dirigente da UNE, pregou a necessidade de os filiados da Juventude do PDT investirem maciçamente no uso das redes sociais. “Temos que nos organizar para isto; termos que dar organicidade à questão da comunicação da JS, em cada estado. Há dois anos, o PT criou um setor dedicado à militância em ambiente virtual, o Mavi. Temos que criar a MTV, Militância Trabalhista Virtual, para disputar este espaço. Um “post” da página nacional do PDT, que falava sobre o fato de Brizola, no governo do Rio de Janeiro, ter concedido passe livre aos estudantes uniformizados teve 38 mil visualizações na página do movimento Reinventar. Temos que trabalhar mais e melhor nesta área”, argumentou.

Sobre as manifestações no Rio, disse que viu de tudo nas ruas: “Vi a esquerda ser hostilizada; vi um militante do PSTU, por exibir uma bandeira, ser agredido, a ponto de entrar em coma; vi gente se dizendo de um comitê de caça a comunistas, vi skinheads e neonazistas ­– vi pessoas de diversas tribos. O que vivemos aqui, na realidade, já aconteceu na Venezuela, em Portugal e na Espanha, para citar alguns exemplos. Há uma crise de identidades também”, afirmou.

Everton Gomes, presidente da JS-PDT do Rio de Janeiro, frisou que a história do PDT mostra que Brizola sempre foi um político ousado, único. Por isto, na sua visão, o partido deve se concentrar na lição que a frase – o gigante acordou, mas precisa escutar quem nunca dormiu – contém.

“Por nunca termos dormido, temos muito a dizer para as pessoas. Não fomos pegos de surpresa. Temos que trabalhar com os 55 milhões de jovens que são parte dos 194 milhões de brasileiros. A garotada foi para as ruas pedindo melhoria de vida, mais transporte, mais educação, mais saúde. Por isso mesmo, precisamos nos reinventar. A juventude está fazendo política e nós temos que avançar nisto”.

Sobre a reunião que teve com a presidenta Dilma Roussef, e líderes de mais 24 instituições ligadas à Juventude, Everton acrescentou:

“Tive a oportunidade de estar com a presidenta Dilma e acho que o balanço da reunião foi positivo. Ela defende o plebiscito, ela quer ouvir a população; ela é líder. Infelizmente, o Congresso não está nem aí. Quando vejo deputado se prender a filigranas jurídicas, lembro, imediatamente, que o artigo primeiro da nossa Constituição diz que todo o poder emana do povo. E ele está nas ruas querendo ser protagonista, porque não aceita mais uma série de coisas e precisa ser ouvida”.

Finalizou explicando que tem ouvido opiniões de alguns deputados sobre o que está acontecendo “que me deixam apavorado” pela insensibilidade.

O representante da JS do Rio Grande do Norte, Kleber, disse que uma das perguntas recorrentes entre os jovens de seu estado, jovens ligados à juventude partidária, é sobre o papel do PDT nas atuais manifestações. “Brizola nos disse, lá atrás, que era necessário inundar o Brasil de consciências esclarecidas; quero dizer que usamos esta frase como exemplo de luta, exemplo para avançar politicamente”. Kleber disse que ficou preocupado ao ver muita gente nas ruas de Natal com cartaz contra a PEC 37, sem saber do que se tratava.

“Qual é a desse movimento sem líder, sem pauta, sem prioridades? É combater a homofobia? Combater o quê? Vamos ficar vendo o cavalo selado passar e não vamos tomar nenhuma providência? Nós somos do PDT; fomos forjados no processo; nossa luta é pautada pelos ideais de Brizola. Precisamos trabalhar na sociedade pelas nossas propostas, como escola de horário integral; precisamos lutar pelo plebiscito para que todos se manifestem sobre a reforma política. Temos que avançar, senão as pessoas vão votar no que a Globo disser”.

Marcelo Barros, do Amazonas, falou sobre a crise de representatividade dos partidos, dos estudantes e criticou a atuação da UNE, que, em sua opinião, há tempos não representa os estudantes. Disse que deputados e senadores precisam ser enquadrados, sim, no programa dos partidos. Marcelo destacou a necessidade de aumentar o trabalho na formação de quadros partidários. Lupi sugeriu, então, que a JS promovesse reuniões nas regiões mais pobres e atrasadas do país, para que conhecessem melhor a realidade do país.

Marcelo, por sua vez, defendeu a realização dos retiros de estudos da JS – que já aconteceram em Santa Catarina e Rio Grande do Sul – que estão programados para vários estados. Lupi pediu para que Marcelo e os demais explicassem melhor como são os retiros da JS: como eles acontecem, e o que é tratado neles. Marcelo explicou que eles fazem parte da estratégia para qualificar a militância.

“Os retiros tem começo, meio e fim. Primeiro, tratamos da formação política e de temas como Universidade Leonel Brizola, história do Trabalhismo, ação do Partido etc. O objetivo é que os participantes, depois, repliquem em seus municípios o que aprenderem lá – sejam multiplicadores”.

Lupi manifestou interesse em participar mais dos retiros, especialmente no de Sergipe – já programado. Disse também que é importante somar cada vez mais gente nova, recém-chegada ao Partido, para que elas conheçam melhor a realidade do PDT.

Antes de o encerramento do encontro, falaram também os representantes da JS do Pará, Alan, que ressaltou que o brasileiro passou, com as manifestações de rua, do período de resignação para o de indignação, porque “o gigante acordou”, relatando o que aconteceu em seu estado.

Falaram ainda os representantes de Pernambuco, que falou sobre as mais de 20 passeatas realizadas no Estado; de Sergipe; e o próprio Lupi. Também particiaram da reunião o Secretário Nacional-Adjunto do Partido, André Menegoto, e o secretário nacional do partido, Manoel Dias, também Ministro do Trabalho e Emprego. Ao final, ficou decidido também que a JS PDT fará um documento político sobre o atual momento.

 

Vídeo: Lupi comenta a reunião

JS-PDT faz retiro no Ceará, este final de semana

OM – Osvaldo Maneschy