Covid-19: letalidade entre índios Xavantes é 160% maior que a média nacional

Foto: Victor Moriyama

Por Bruno Ribeiro/FLB-AP
26/06/2020

Entre os mortos nas aldeias de Mato Grosso, quatro são familiares do ex-deputado Cacique Mário Juruna

O impacto do Covid-19 segue cada vez mais intenso entre os indígenas, principalmente os de Mato Grosso. A taxa de letalidade na população Xavante alcançou 11,7%, índice 160% maior que a atual média da população brasileira (4,5%), segundo dados do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde atualizados até a última quinta-feira (25).

A taxa, que reflete os 12 óbitos entre os 102 casos confirmados de coronavírus desde maio deste ano, mostra a alta disseminação na tribo de cerca de 22 mil índios, realidade que ainda pode ser ainda mais grave em função dos casos assintomáticos e da falta de testagem em massa.

Se comparado com o número de índios mortos em todo o país, o índice com Xavantes mostra um cenário ainda mais preocupante. De acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a taxa de letalidade com indígenas, no Brasil, é de 6.8%. Os valores mostram, portanto, uma variação de 72%.

Para o presidente nacional do Movimento Indígena do PDT, Rafael Weree, a situação caótica foi potencializada pela falta de assistência do governo federal.

“Bolsonaro sempre deixou claro que deseja a destruição das minorias vulneráveis. Ele persegue os indígenas e o seu descaso está custando ainda mais vidas em aldeias de todo o Brasil. É um genocida”, criticou.

Como tentativa de reverter o quadro, Weree cita a aprovação no Senado Federal, neste mês, do Projeto de Lei 1.142/2020, que cria um pacote de ações de vigilância sanitária e epidemiológicas para proteger não só indígenas, mas também quilombolas e comunidades tradicionais. Para ele, a medida, que contou com o apoio do PDT, “é um paliativo diante da desordem instalada”.

“O resultado negativo entre os Xavantes é potencializado pela fragilidade da imunidade, falta de assistência médica nas aldeias, consequente dificuldade de locomoção até as cidades com leitos de UTI, além das invasões e desmatamentos nas reservas”, pontuou.

“Em função desses pontos, ele alega que muitos estão se recusando a sair das suas terras pelo pânico gerado pelas sucessivas perdas”, acrescentou.

Vidas

Entre as 12 perdas registradas pelos Xavantes, estão crianças, jovens e caciques mais idosos, incluindo quatro familiares de Mário Juruna, primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Nascido na aldeia Namurunjá, em Barra do Garça (MT), o também cacique foi eleito, em 1982, pelo PDT do Rio de Janeiro na composição da chapa de Leonel Brizola, que venceu a disputa pelo governo do estado.

Neto de Juruna, Weree pondera que os seus ensinamentos propagados servem de exemplo para “manter os Xavantes cada vez mais aguerridos”.

“São famílias destruídas e um povo constantemente ameaçado. A realidade já era difícil e piorou. Precisaremos de muita força para superar estes novos problemas na luta pela vida. Nossa história sempre foi marcada por resistência e união. Não vamos desistir jamais”, concluiu.