Com Ciep, Leonel Brizola confirmou o valor das crianças para o futuro da nação brasileira


Por Bruno Ribeiro / FLB-AP
22/01/2021

Na década de 80, projeto pedetista revolucionou o ensino público do Rio e transformou gerações de cidadãos

“Dos Cieps hão de sair aqueles homens e mulheres que irão fazer, pelo povo brasileiro e pelo Brasil, tudo aquilo que nós não conseguimos ou não tivemos coragem de fazer”, projetou, em 1986, o então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, no prefácio de “O Livro dos CIEPs”, escrito por Darcy Ribeiro, seu vice. Nesta sexta-feira (22), o ex-presidente nacional do PDT completaria 99 anos.

“Elas representam o que o Brasil tem de maior valor e, também, os nossos próprios destinos, como nação livre e democrática, empenhada na construção de uma existência digna para todos os seus filhos”, valorizou Brizola.

Para o líder pedetista, o projeto dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) confirmou o surgimento de uma vertente que questionava, por dentro do sistema historicamente estruturado, a “realidade social injusta, desumana e impatriótica”.

“Os alunos dos Cieps vêm alcançando cerca de 90% de aprovação. Só este alto rendimento justifica, inclusive economicamente, os Centros Integrados de Educação Pública”, destaca, ao lembrar que “mais de 50% das crianças, depois de anos de repetência, deixam a escola mal assinando o nome.”

A publicação, que representava um balanço da primeira gestão brizolista no estado, dava ainda destaque ao processo de desenvolvimento de uma efetiva política pública de inclusão e desenvolvimento educacional para os cidadãos fluminenses. Na introdução, o governador deixou evidente a relevância conquistada e confirmada ao longo dos quatro anos.

“Esta pequena publicação destina-se a levar ao conhecimento público uma ligeira explicação sobre as realizações, de nosso governo, no campo da educação. O Prof. Darcy Ribeiro foi o meu braço direito. Não fora ele, sua equipe de professores e o conjunto do magistério público, não teríamos conseguido estes importantes avanços, que precisam prosseguir, indispensavelmente. Fizemos 500 CIEPs. O próximo governo deverá fazer mais 500 ou, quem sabe, muito mais”, projetou.

Confira, abaixo, o prefácio. A íntegra do livro pode ser baixada aqui.

“O CIEP é uma nova instituição que surge, questionando, por dentro, esta realidade social injusta, desumana e impatriótica. Estas novas escolas proporcionarão às nossas crianças alimentação completa, aulas, a segunda professora que os pobres nunca tiveram esporte, lazer, material, assistência médica e dentária. Depois de permanecer todo o dia no colégio, voltam, de banho tomado, para o carinho da família.

Mais de 50% de nossas crianças, depois de anos de repetência, deixam a escola mal assinando o nome. Noutras palavras, analfabetas e ressentidas. Por quê? Deficiente de saúde e alimentação, apenas permanecem algumas horas no ambiente escolar, o qual, por sua vez, tem sido precário e ineficaz. Os alunos dos CIEPs vêm alcançando cerca de 90% de aprovação. Só este alto rendimento justifica, inclusive economicamente, os Centros Integrados de Educação Pública.

Dizem alguns que deveriam ser como as escolas que sempre tivemos. Afirmamos que não. As nossas crianças merecem ainda mais. Elas representam o que o Brasil tem de maior valor e, também, os nossos próprios destinos, como nação livre e democrática, empenhada na construção de uma existência digna para todos os seus filhos. Todas as crianças deste país deveriam estar em escolas como os CIEPs. Para isto, bastaria que não se desviassem tantos recursos públicos para fins inúteis e inconfessáveis. Se deixássemos, por exemplo, de pagar os juros da dívida externa apenas por dois anos, todas as crianças brasileiras poderiam estar estudando num CIEP.

Esta pequena publicação destina-se a levar ao conhecimento público uma ligeira explicação sobre as realizações, de nosso governo, no campo da educação. O Prof. Darcy Ribeiro foi o meu braço direito. Não fora ele, sua equipe de professores e o conjunto do magistério público, não teríamos conseguido estes importantes avanços, que precisam prosseguir, indispensavelmente. Fizemos 500 CIEPs. O próximo governo deverá fazer mais 500 ou, quem sabe, muito mais.

Dos CIEPs hão de sair aqueles homens e mulheres que irão fazer, pelo povo brasileiro pelo Brasil, tudo aquilo que nós não conseguimos ou não tivemos coragem de fazer.”

Rio de Janeiro, outubro de 1986.

Eng. Leonel Brizola

Governador do estado