Centenário de Darcy Ribeiro: a Educação brasileira pede socorro


Da Redação
26/10/2022

A Educação é o caminho necessário para o desenvolvimento social e econômico de uma nação. A afirmação é óbvia para o cidadão atento. Na política, no entanto, a questão nem sempre figura entre as prioridades. Darcy Ribeiro sabia disso e dedicou boa parte da vida para transformar a Educação brasileira. Hoje, 100 anos após o seu nascimento e 25 depois da sua morte, o MEC está enfraquecido como nunca e as Universidades Federais, que contaram com grande contribuição do trabalhista, ameaçam fechar as portas.

O desinvestimento progressivo e o sucateamento do Ministério da Educação, transformado, inclusive, em balcão de negócios por bolsonaristas, têm gerado péssimos resultados, como o crescimento da evasão escolar e a deficiência no ensino e na aprendizagem. O último corte do Governo Bolsonaro na área foi de R$ 2,4 bilhões.

Não há papel higiênico nos banheiros das universidades federais. Recentemente, o presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), Ricardo Fonseca, declarou que, com os novos cortes na Educação, algumas instituições não terão dinheiro nem mesmo para pagar as contas de água e luz. Desse setor de ensino, especificamente, foram retirados R$ 763 milhões.

Contrapondo a triste realidade fomentada pelo Governo Federal, existe uma história de muito sucesso na Educação, assistência e inclusão social. Essa foi capitaneada por Darcy Ribeiro, na década de 1980, no estado do Rio de Janeiro, durante o Governo de Leonel Brizola. Eram os famosos Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps, o mais eficiente modelo de educação pública que o Brasil já experimentou.

Os alunos das comunidades em que se encontravam os Cieps eram atendidos pela escola. As crianças eram recebidas com o café da manhã e tinham mais duas refeições ao longo do dia. Durante a manhã, havia aula regular e, no turno oposto, atividades esportivas, artísticas e extracurriculares. Todo Ciep era equipado com quadra poliesportiva e piscina. Os estudantes também tinham assistência médica e odontológica no colégio. Nos finais de semana, o espaço era aberto a toda a comunidade.

Indo um pouco mais a fundo no cotidiano educacional elaborado por Darcy, o ensino contava com uma visão inclusiva, onde o aluno era o ator principal no processo de ensino. Isso quer dizer que os professores lecionavam com base na realidade daqueles alunos, associando o conteúdo à vida real. Dessa forma, promovia maior afinidade entre o assunto estudado e o estudante, gerando maior interesse e melhor desenvolvimento.

Neste centenário de Darcy Ribeiro é fundamental se atentar para esse contraste aterrador. Se hoje bilhões de reais escorrem do órgão que deveria desenvolver a Educação, houve um tempo em que cada centavo era convertido na alforria dos jovens de baixa renda – os que de fato precisam do Estado para ter acesso ao ensino. No Rio, os Cieps acabaram caindo no esquecimento pelas gestões que sucederam Brizola e estão abandonados. Como dizia Darcy: “a crise da Educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”.

Mais sobre Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro era uma força da natureza com um toque de rebeldia, inspirado pelo amor à Pátria e ao povo brasileiro. Mineiro, nasceu em 26 de outubro de 1922, em Montes Claros, onde passou toda a infância e adolescência.

Na juventude, Darcy inicia sua jornada de estudos no curso de Medicina, em Belo Horizonte, em 1939. Três anos mais tarde, decide ir para São Paulo, onde se forma em Antropologia. Lá, começa a trabalhar como etnólogo no Serviço de Proteção ao Índio e, após fundar o Museu do Índio, no Rio de Janeiro, inicia umas das atividades que mais gostava: ensinar.

Em 1962, o antropólogo trabalhista decide contribuir ainda mais com o Brasil. Com menos de 40 anos, se torna ministro da Educação e, em seguida, ministro da Casa Civil. Neste último cargo, foi incumbido de trabalhar no projeto de Reformas de Base – importante grupo de propostas econômicas, sociais e políticas para reorganizar o desenvolvimento nacional e reduzir a desigualdade.

Com o Golpe Militar de 1964, Darcy é obrigado a sair do Brasil e vai para o Uruguai, onde atua como professor da Universidad de La Republica. No exílio ainda atuou em outras universidades da América Latina, incluindo a Universidade de Chile, a convite do presidente Salvador Allende.

Em 1982, já no PDT que ajudara a fundar, Darcy Ribeiro é eleito vice-governador do Rio de Janeiro, na chapa liderada por Leonel Brizola. Em sua atuação, coordenou o Projeto Especial de Educação e criou o tão sonhado Ciep, a escola de tempo integral que mudaria a história de milhões de crianças no estado.

Em 1990, com o lema de Senador da Educação, Darcy Ribeiro estreia outro capitulo da sua vida. Com quase três milhões de votos, o pedetista é eleito senador pelo Rio de Janeiro, nas primeiras eleições gerais realizadas sob a nova ordem constitucional, construída no lugar da Ditadura Militar.

Como parlamentar, lutou pela defesa dos povos indígenas, da natureza, do negro e da educação popular, com uma atuação brilhante ao formular a Lei de Diretrizes Bases da Educação (LDB), a mais importante lei brasileira que rege o atual sistema de educação.

“Serei uma voz fiel a ele (povo do Rio de Janeiro) e fiel a mim, na defesa das causas a que dediquei minha vida: a liberdade, a democracia, a salvação dos índios, a educação popular, o pleno emprego, a fartura, a universidade necessária e a Nação Latino-Americana”, assim o fez Darcy Ribeiro.