Bolsonaro e a banalização do absurdo


Por André Figueiredo
09/09/2021

Uma das obras primas da escritora Hannah Arendt analisa o julgamento de um burocrata nazista, cuja linha de defesa se fundamentava em alegar que apenas “cumpria ordens”. A partir daí, Arendt desenvolverá sua tese sobre a “banalização do mal”.

O 7 de setembro de Bolsonaro nos impõe a obrigação de nos distanciarmos, com urgência, de qualquer cumplicidade com seu governo, porque isso seria a banalização do absurdo. Em seu discurso na Paulista, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não cumprirá decisões de um ministro do STF. O que diferencia um cidadão honesto de um fora da lei é justamente o fato de que o primeiro respeita… decisões judiciais!

Devemos respeitar a justiça mesmo que não concordemos com o juiz. Imagine o que seria do sistema se todo delinquente decidisse que não mais respeitará a decisão do juiz responsável por seu caso? Há instrumentos legais e democráticos para se contestar a decisão de um juiz!

Apenas um cidadão sem qualquer compromisso com a democracia chama o processo eleitoral de seu próprio país de “farsa” e faz ameaças ao presidente da instituição máxima que regula, monitora e julga as eleições!

Qual a agenda de Bolsonaro? O que ele propõe para aliviar o sofrimento do trabalhador, vitimado pelo desemprego, pela inflação alta, pelas mortes provocadas pela pandemia? O que ele propõe para incentivar o empreendedor, cujas vendas declinam na proporção do desemprego, pois desempregado não consome?

O que ele propõe para a educação das crianças e adolescentes de famílias humildes, que compõem a maioria esmagadora da população, profundamente prejudicadas pelo necessário fechamento de escolas e pela incompetência da gestão atual do Ministério da Educação? A única bandeira de Bolsonaro é sua obsessão pelo poder, que ele vê hoje como única garantia para que não seja preso. Como o medo é mau conselheiro, porém, Bolsonaro tem trocado os pés pelas mãos, e as manifestações que, ele achava, deveriam lhe deixar mais forte, pioraram a sua situação!

Neste 8 de setembro, o Brasil amanheceu mais consciente de que precisamos de lideranças mais sóbrias e mais responsáveis para superarmos a crise!

*André Figueiredo é deputado federal e presidente do PDT-CE