As urnas eletrônicas encalharam no Paraguai

Hoje (20) pela manhã, percorri dois locais de votação. O primeiro, na escola Brasil, com dez seções, colhia os votos dos eleitores para presidente e vice, senador no Mercosul, deputado federal, governador de província e deputado provincial. Cada votante recebia uma cédula, em papel, como antigamente, para com um "x" marcar sua escolha. Cronometrei o tempo de três eleitores: em média gastaram quatro minutos para concluir a votação. Em cada seção estão inscritos não mais que 200 eleitores; com uma abstenção de 40%, votaram 120 eleitores, em oito horas de funcionamento. No Brasil, com seções com 400 inscritos e voto obrigatório, levaríamos dias para concluir a votação, no entanto aqui funcionou muitíssimo bem.

Diferentemente das nossas eleições, havia pouca movimentação na boca da urna. Vez ou outra chegava gente transportada pelos cabos eleitorais, porém nada de aglomeração nas proximidades dos locais de votação. Tudo transcorreu em um clima de muita tranqüilidade.
 
A essa hora já temos o resultado das pesquisas de boca de urna que dão uma vantagem que varia de 3 a 6% a favor de Fernando Lugo. Hoje, nas minhas andanças nos locais de votação, ouvia com muita freqüência a palavra "cambio". Tudo indica que os paraguaios, a essa altura, já deram um fim ao /reinado/ de 60 anos do Partido Colorado. Claro que é preciso aguardar os resultados oficiais, pois aqui, como aí (no Brasil), o fantasma da fraude ronda muito próximo às urnas e seus resultados.
 
Acompanhei a pífia cobertura da imprensa brasileira sobre as eleições no Paraguai, já que dedica todo o seu tempo às eleições americanas que ocorrerão no final do ano, deixando esta de lado, ou quando comenta é para desqualificar as instituições do país. Creio que a cobertura falou mais em uma possível fraude do que no acontecimento histórico que representa a possível eleição de Lugo.
 
Esquece a nossa imprensa que, mesmo sendo verdadeira a corrupção desenfreada e institucionalizada aqui no Paraguai, ainda assim, esse povo teve a clareza de não aceitar mais votar às cegas, nas urnas eletrônicas, oferecidas pelo Brasil. Esse fato ainda não mereceu destaque. As urnas eletrônicas brasileiras, símbolo da modernidade política, encalharam sob suspeita, no país mais corrupto da América do Sul.

Isso, sim, mereceria atenção da sociedade brasileira. No entanto, um ou outro jornal noticiou e nada mais. Esse fato precisa ser debatido: depois de ter utilizado nossas urnas eletrônicas em vários pleitos, despertando os brios nacionais, principalmente dos representantes da justiça eleitoral e da imprensa brasileira, os paraguaios desistiram do seu uso. Mais que isso, colocaram-nas sob suspeita. Lembro-me que o TSE cantou em prosa e verso a inviolabilidade dessas urnas, festejou e alçou o Paraguai à modernidade política por ter sido o único país em todo o mundo a aceitar nossas urnas. E agora, como fica? Como então explicar ao povo brasileiro que nossas urnas são as mais confiáveis do planeta se nem mesmo o Paraguai quis saber delas?
 
*João Capiberibe, vice-presidente nacional do PSB, presidente do PSB no Amapá, foi Senador da República, governador do Amapá, prefeito de Macapá e exilado político na década de 70, acompanha as eleições paraguaias a convite do Comitê Eleitoral daquele país.
Hoje (20) pela manhã, percorri dois locais de votação. O primeiro, na escola Brasil, com dez seções, colhia os votos dos eleitores para presidente e vice, senador no Mercosul, deputado federal, governador de província e deputado provincial. Cada votante recebia uma cédula, em papel, como antigamente, para com um “x” marcar sua escolha. Cronometrei o tempo de três eleitores: em média gastaram quatro minutos para concluir a votação. Em cada seção estão inscritos não mais que 200 eleitores; com uma abstenção de 40%, votaram 120 eleitores, em oito horas de funcionamento. No Brasil, com seções com 400 inscritos e voto obrigatório, levaríamos dias para concluir a votação, no entanto aqui funcionou muitíssimo bem.

Diferentemente das nossas eleições, havia pouca movimentação na boca da urna. Vez ou outra chegava gente transportada pelos cabos eleitorais, porém nada de aglomeração nas proximidades dos locais de votação. Tudo transcorreu em um clima de muita tranqüilidade.
 
A essa hora já temos o resultado das pesquisas de boca de urna que dão uma vantagem que varia de 3 a 6% a favor de Fernando Lugo. Hoje, nas minhas andanças nos locais de votação, ouvia com muita freqüência a palavra “cambio”. Tudo indica que os paraguaios, a essa altura, já deram um fim ao /reinado/ de 60 anos do Partido Colorado. Claro que é preciso aguardar os resultados oficiais, pois aqui, como aí (no Brasil), o fantasma da fraude ronda muito próximo às urnas e seus resultados.
 
Acompanhei a pífia cobertura da imprensa brasileira sobre as eleições no Paraguai, já que dedica todo o seu tempo às eleições americanas que ocorrerão no final do ano, deixando esta de lado, ou quando comenta é para desqualificar as instituições do país. Creio que a cobertura falou mais em uma possível fraude do que no acontecimento histórico que representa a possível eleição de Lugo.
 
Esquece a nossa imprensa que, mesmo sendo verdadeira a corrupção desenfreada e institucionalizada aqui no Paraguai, ainda assim, esse povo teve a clareza de não aceitar mais votar às cegas, nas urnas eletrônicas, oferecidas pelo Brasil. Esse fato ainda não mereceu destaque. As urnas eletrônicas brasileiras, símbolo da modernidade política, encalharam sob suspeita, no país mais corrupto da América do Sul.

Isso, sim, mereceria atenção da sociedade brasileira. No entanto, um ou outro jornal noticiou e nada mais. Esse fato precisa ser debatido: depois de ter utilizado nossas urnas eletrônicas em vários pleitos, despertando os brios nacionais, principalmente dos representantes da justiça eleitoral e da imprensa brasileira, os paraguaios desistiram do seu uso. Mais que isso, colocaram-nas sob suspeita. Lembro-me que o TSE cantou em prosa e verso a inviolabilidade dessas urnas, festejou e alçou o Paraguai à modernidade política por ter sido o único país em todo o mundo a aceitar nossas urnas. E agora, como fica? Como então explicar ao povo brasileiro que nossas urnas são as mais confiáveis do planeta se nem mesmo o Paraguai quis saber delas?
 
*João Capiberibe, vice-presidente nacional do PSB, presidente do PSB no Amapá, foi Senador da República, governador do Amapá, prefeito de Macapá e exilado político na década de 70, acompanha as eleições paraguaias a convite do Comitê Eleitoral daquele país.