As escolas cívico-militares e Darcy Ribeiro


Lauri Bernardes
28/10/2019

Poucos nomes lutaram tanto pela educação no Brasil quanto Darcy Ribeiro. Discípulo dos ensinamentos de Anísio Teixeira, ao lado de Paulo Freire, sem dúvidas foi um dos principais intelectuais da pedagogia brasileira e da luta incansável por tornar o acesso à educação cada vez mais plural e gratuito. Em outras palavras, Darcy Ribeiro e o Trabalhismo sempre lutaram e defenderam a escola como espaço do bem comum.

Um local aberto para todos da comunidade que buscassem o conhecimento e a construção social. Não à toa, Darcy Ribeiro tirou do papel muitos espaços assim. Foi ele quem idealizou a Universidade Brasília (UnB). Foi ele quem liderou a criação da Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF). E foi também ele quem entregou ao Rio de Janeiro mais de 500 Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs).

Tal importância nos faz questionar: o que seria que Darcy diria sobre o projeto das escolas cívico-militares que começa a fazer parte dos debates educacionais do país? Afinal, sua visão sobre educação sempre foi essa: livre, gratuita para todos, pois para ele, somente através dela o Brasil poderia ser um país melhor. E tanto acreditava nisso que uma das suas frases mais conhecidas soou quase como uma previsão: “A crise da educação no Brasil não é uma crise. É um projeto”, disse certa vez.

Partindo dessa premissa, só existem duas alternativas para que a frase de Darcy não esteja 100% correta e o modelo das escolas cívico-militares não passe de um projeto para privilegiar as elites. Resumindo: esse modelo de escolas só será inclusivo e verdadeiramente educacional e público se: os alunos foram selecionados pela proximidade que residem das escolas. E depois pela renda, sendo as crianças de famílias com menores condições as primeiras a ocuparem as vagas.

Caso contrário esse projeto só servirá para seguir beneficiando os mais abastados, que sempre foram privilegiados nesta terra tão desigual, ou então os filhos de militares que também já possuem diversas vantagens. Com isso se confirmando, ficaria ainda mais claro que o objetivo não é a educação realmente pública que sempre defendeu Darcy Ribeiro, mas sim mais uma chance de manter o status quo da nossa sociedade.

 

*Lauri Bernardo é historiador, presidente estadual do  e secretário-geral nacional do Movimento Cultural Darcy Ribeiro (MCDR)