A morte de Lincoln Gordon e a nova onda golpista

Por FC Leite Filho

A morte ontem (21/12/09) do ex-embaixador americano Lincoln Gordon, um dos principais artífices do Golpe Militar de 1964 que depôs o presidente constitucional João Goulart, aos 96 anos,  ocorre num momento significativo.  Ela coincide com a nova investida dos Estados Unidos visando à derrocada, inclusive com o recurso às quarteladas, como demonstrou o recente golpe em Honduras, dos governos progressistas, que estão imprimindo uma política mais popular e independente na América Latina.

Esses governos progressistas, sobretudo os da Argentina, Bolívia, Venezuela, Equador, Nicarágua e o próprio Brasil, surgiram com os estragos produzidos pelo neoliberalismo: liquidação das empresas estatais, desemprego massivo, abertura indiscriminada para os excedentes da matriz e desregulação de todas as salvaguardas nacionais. Com isso, o desemprego disparou para quase 30% em países, como na Argentina, Venezuela, Bolívia etc, o crescimento econômico foi a quase zero e os sistemas de saúde, educação e transportes foram desmantelados. Como se recorda, o esquema neoliberal sucedeu às ditaduras militares impostas pelos norte-americanos, a partir justamente da derrubada de Goulart no Brasil, em 1964 e que começaram a cair em 2000. Tais governos foram obrigados pelas diretrizes do Consenso de Washington, criado para atender às demandas da superpotência em que se transformaram os Estados Unidos com queda do muro de Berlim, em 1989.

Tratava-se de uma política predatória que embocaria no colapso da Argentina, em 2002, da Venezuela, em diversas oportunidades, desde 1982, no Brasil, com vários ataques especulativos e a ruína indiscriminada em praticamente todos os países de nossa Latinoamérica. A crise acabou por propiciar a emergência de líderes mais identificados com os anseios de autonomia da população. Assim é que surge o tenente-coronel Hugo Chávez, que havia sublevado o exército contra o presidente neoliberal Carlos Andrés Perez, em 1992, mas que, em 1998, foi eleito c presidente com 59% dos votos venezuelanos. Chávez de pronto muda a constiuição para atender aos reclamos populares e incia um amplo programa de saúde, educação e de pensões para os pobres, que hoje culmina com dados bem concretos em termos de melhoria: Com quatro anos de governo, o país anuncia, com o aval da Unesco, o fim do analfabetismo. Depois construiu um sistema de novos hospitais, clínicas e de médicos de família, a ponto de assistir hoje toda a população, inclusive com remédios gfatuitos. Na Argentina, o casal Kirchner, primeiro Néstor e depois a esposa Cristina, diminuiram a taxa de desemprego de 27% para 9%, um feito semelhante ocorrido no governo Chávez. Nicarágua, Equador e Bolívia, onde o analfabetismo era outra praga secular, também foi banida. Agora, o Paraguai, anuncia a assistência médica gratuita para toda a população.

Ocorre que esses governos batem de frente com os interesses das companhias americanas, porque seus lucros estupendos começam a evaporar, inclusive porque a prioridade neste subcontinente não é mais o comércio privilegiado com os Estados Unidos, mas entre eles próprios, se possível sem a intemediação do dólar. Brasil, Argentina e Venezuela decuplicaram o seu ingtercâmbio e multiplicaram suas transferências de tecnologia, sobretudo na área alimentar e energética, a ponto de poder se constituiur num polo setorial de poder dentro de um certo tempo. Tal situação não é admitida pelos falcões de Washington, que passaram à ação, inclusive recorrendo a golpes de estado, como o ocorrido em Honduras, em junho deste ano de 2009. Numa estripulia que arrepiaria os espíritos mais sensíveis, não fora o franco apoio e sustentação da mídia, os militares não só arrancaram o presdiente Manuel Zelaya do palácio presdiencial, em Tegucigalpa, na calada da noite, como o embarcaram ainda de pijama, num avião para a Costa Rica, antes passando pela Base Militar americana situada nos arredores da capital. 

Agora, pesa a ameaça de golpe contra o governo Fernando Lugo, do Paraguai, também legitimanete eleito, mas que já foi obrigado a mudar quatro vezes a cáupula das forças armadas, para dissuadir os golpistas. Na Argentina, a mídia se lançou a uma campanha de desestabiolização da presidente Cristina Kirchner, que ela chamou de "fuzilamento midiático". Na Bolívia, em 2008, o presidente Evo Morales sofreu um movimento cívico-militar, que ameaçou não apenas destroná-lo como também retalhar o país, separando a região rica da mais pobre. Evo se sentiu forte e cortou a cabeça do movimento, expulsando o embaixador americano e em seguida os agentes ligados à CIA, DEA, Usaid e outros órgãos americanos. Na Venezuela, o presdiente Chávez acaba de denunciar a violação de seu espaço aéreo por um avião não tripulado, que teria decolado da Colômbia, onde os Estados Unidos estão instalando sete novas bases militares.


É este o novo contexto golpista, que não parece diferenciar-se muito daquele em que atuou o agora falecido embaixador Lincoln Gordon. Mas quem foi esse embaixador? Abraham Lincoln Gordon, nascido de uma família de classe média em Nova York, no ano de 1913, era um desses scholars sofisticados da universidade americana, que fumava cachimbo e enriqueceu seu currículo com experiências em Oxford, onde tirou um PhD, em Harvard, de onde foi dirigente e professor e a Johns Hopkins University, de que era presidente. Foi um dos autores da Aliança para o Progresso, programa do presidente John Kennnedy, mas tinha também sua ficha de"CIA employee" (*), empregado da CIA. Sua chegada ao Brasil, logo depois que João Goulart assumiu a presidência da República, em 1961, foi saudada pela mídia nativa com fogos e artifícios. Afinal, a Aliança para o Progresso iria salvar a América Latina e o Brasil, do atraso e da miséria, com financiamentos generosos e aportes tecnológicos.

Como se viu depois, Gordon trabalhou muito mais como agente da CIA do que como aquele humanista que se espera de um scholar e a Aliança se revelou um grande embuste. O fato é que, pouco mais de dois anos de sua estada no Brasil, nossos militares se sublevaram por instruções de Washington e puseram abaixo o governo constitucional, iniciando uma onda de golpes militares que converteram quase todo o subcontinente num pantanal de ditadores os mais sanguinários. Lincoln Gordon viajou por todo o país concitando à sublevação com Goulart, através de um contato direto com lideranças políticas, governadores, parlamentares e comandantes militares. O escritor Moniz Bandeira afirma em seu livro "O Governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil (1961-64)", que cinco mil agentes da CIA deram entrada no Brasil durante aquele período.  

Protegido pela mídia que sempre via nele um "baluarte da democracia", Lincoln Gordon conseguiu encobrir muito dessas suas atividades naquele período, mas hoje é o próprio jornal O Globo que reproduz um um relatório de Lincoln Gordon para seu governo, provavelmente obtido nos Arquivos Nacionais da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, enviado quatro dias antes do golpe no Brasil . Diz o documento "... recomendamos que se tomem, o quanto antes medidas para preparar um fornecimento clandestino de armas que não sejam de origem norte-americana, para os que apoiam Castello Branco em São Paulo. ... Hoje nos parece que o melhor meio de fornecimento é um submarino de identificação, com desembarque noturno em locais isolados do litoral,. no estado de São Paulo, ao sul de Santos, provavelmente perto de Iguape eou Cananéia". Outro detalhe importante é que o Governo de Washginton levou menos de 48 horas para reconhecer o governo golpista, quando João Goulart ainda se encontrava no Brasil.

(*) Currículo de Gordon NNDB

Veja quem foi João Goulart

Por FC Leite Filho

A morte ontem (21/12/09) do ex-embaixador americano Lincoln Gordon, um dos principais artífices do Golpe Militar de 1964 que depôs o presidente constitucional João Goulart, aos 96 anos,  ocorre num momento significativo.  Ela coincide com a nova investida dos Estados Unidos visando à derrocada, inclusive com o recurso às quarteladas, como demonstrou o recente golpe em Honduras, dos governos progressistas, que estão imprimindo uma política mais popular e independente na América Latina.

Esses governos progressistas, sobretudo os da Argentina, Bolívia, Venezuela, Equador, Nicarágua e o próprio Brasil, surgiram com os estragos produzidos pelo neoliberalismo: liquidação das empresas estatais, desemprego massivo, abertura indiscriminada para os excedentes da matriz e desregulação de todas as salvaguardas nacionais. Com isso, o desemprego disparou para quase 30% em países, como na Argentina, Venezuela, Bolívia etc, o crescimento econômico foi a quase zero e os sistemas de saúde, educação e transportes foram desmantelados. Como se recorda, o esquema neoliberal sucedeu às ditaduras militares impostas pelos norte-americanos, a partir justamente da derrubada de Goulart no Brasil, em 1964 e que começaram a cair em 2000. Tais governos foram obrigados pelas diretrizes do Consenso de Washington, criado para atender às demandas da superpotência em que se transformaram os Estados Unidos com queda do muro de Berlim, em 1989.

Tratava-se de uma política predatória que embocaria no colapso da Argentina, em 2002, da Venezuela, em diversas oportunidades, desde 1982, no Brasil, com vários ataques especulativos e a ruína indiscriminada em praticamente todos os países de nossa Latinoamérica. A crise acabou por propiciar a emergência de líderes mais identificados com os anseios de autonomia da população. Assim é que surge o tenente-coronel Hugo Chávez, que havia sublevado o exército contra o presidente neoliberal Carlos Andrés Perez, em 1992, mas que, em 1998, foi eleito c presidente com 59% dos votos venezuelanos. Chávez de pronto muda a constiuição para atender aos reclamos populares e incia um amplo programa de saúde, educação e de pensões para os pobres, que hoje culmina com dados bem concretos em termos de melhoria: Com quatro anos de governo, o país anuncia, com o aval da Unesco, o fim do analfabetismo. Depois construiu um sistema de novos hospitais, clínicas e de médicos de família, a ponto de assistir hoje toda a população, inclusive com remédios gfatuitos. Na Argentina, o casal Kirchner, primeiro Néstor e depois a esposa Cristina, diminuiram a taxa de desemprego de 27% para 9%, um feito semelhante ocorrido no governo Chávez. Nicarágua, Equador e Bolívia, onde o analfabetismo era outra praga secular, também foi banida. Agora, o Paraguai, anuncia a assistência médica gratuita para toda a população.

Ocorre que esses governos batem de frente com os interesses das companhias americanas, porque seus lucros estupendos começam a evaporar, inclusive porque a prioridade neste subcontinente não é mais o comércio privilegiado com os Estados Unidos, mas entre eles próprios, se possível sem a intemediação do dólar. Brasil, Argentina e Venezuela decuplicaram o seu ingtercâmbio e multiplicaram suas transferências de tecnologia, sobretudo na área alimentar e energética, a ponto de poder se constituiur num polo setorial de poder dentro de um certo tempo. Tal situação não é admitida pelos falcões de Washington, que passaram à ação, inclusive recorrendo a golpes de estado, como o ocorrido em Honduras, em junho deste ano de 2009. Numa estripulia que arrepiaria os espíritos mais sensíveis, não fora o franco apoio e sustentação da mídia, os militares não só arrancaram o presdiente Manuel Zelaya do palácio presdiencial, em Tegucigalpa, na calada da noite, como o embarcaram ainda de pijama, num avião para a Costa Rica, antes passando pela Base Militar americana situada nos arredores da capital. 

Agora, pesa a ameaça de golpe contra o governo Fernando Lugo, do Paraguai, também legitimanete eleito, mas que já foi obrigado a mudar quatro vezes a cáupula das forças armadas, para dissuadir os golpistas. Na Argentina, a mídia se lançou a uma campanha de desestabiolização da presidente Cristina Kirchner, que ela chamou de “fuzilamento midiático”. Na Bolívia, em 2008, o presidente Evo Morales sofreu um movimento cívico-militar, que ameaçou não apenas destroná-lo como também retalhar o país, separando a região rica da mais pobre. Evo se sentiu forte e cortou a cabeça do movimento, expulsando o embaixador americano e em seguida os agentes ligados à CIA, DEA, Usaid e outros órgãos americanos. Na Venezuela, o presdiente Chávez acaba de denunciar a violação de seu espaço aéreo por um avião não tripulado, que teria decolado da Colômbia, onde os Estados Unidos estão instalando sete novas bases militares.


É este o novo contexto golpista, que não parece diferenciar-se muito daquele em que atuou o agora falecido embaixador Lincoln Gordon. Mas quem foi esse embaixador? Abraham Lincoln Gordon, nascido de uma família de classe média em Nova York, no ano de 1913, era um desses scholars sofisticados da universidade americana, que fumava cachimbo e enriqueceu seu currículo com experiências em Oxford, onde tirou um PhD, em Harvard, de onde foi dirigente e professor e a Johns Hopkins University, de que era presidente. Foi um dos autores da Aliança para o Progresso, programa do presidente John Kennnedy, mas tinha também sua ficha de”CIA employee” (*), empregado da CIA. Sua chegada ao Brasil, logo depois que João Goulart assumiu a presidência da República, em 1961, foi saudada pela mídia nativa com fogos e artifícios. Afinal, a Aliança para o Progresso iria salvar a América Latina e o Brasil, do atraso e da miséria, com financiamentos generosos e aportes tecnológicos.

Como se viu depois, Gordon trabalhou muito mais como agente da CIA do que como aquele humanista que se espera de um scholar e a Aliança se revelou um grande embuste. O fato é que, pouco mais de dois anos de sua estada no Brasil, nossos militares se sublevaram por instruções de Washington e puseram abaixo o governo constitucional, iniciando uma onda de golpes militares que converteram quase todo o subcontinente num pantanal de ditadores os mais sanguinários. Lincoln Gordon viajou por todo o país concitando à sublevação com Goulart, através de um contato direto com lideranças políticas, governadores, parlamentares e comandantes militares. O escritor Moniz Bandeira afirma em seu livro “O Governo João Goulart: as lutas sociais no Brasil (1961-64)”, que cinco mil agentes da CIA deram entrada no Brasil durante aquele período.  

Protegido pela mídia que sempre via nele um “baluarte da democracia”, Lincoln Gordon conseguiu encobrir muito dessas suas atividades naquele período, mas hoje é o próprio jornal O Globo que reproduz um um relatório de Lincoln Gordon para seu governo, provavelmente obtido nos Arquivos Nacionais da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, enviado quatro dias antes do golpe no Brasil . Diz o documento “… recomendamos que se tomem, o quanto antes medidas para preparar um fornecimento clandestino de armas que não sejam de origem norte-americana, para os que apoiam Castello Branco em São Paulo. … Hoje nos parece que o melhor meio de fornecimento é um submarino de identificação, com desembarque noturno em locais isolados do litoral,. no estado de São Paulo, ao sul de Santos, provavelmente perto de Iguape eou Cananéia”. Outro detalhe importante é que o Governo de Washginton levou menos de 48 horas para reconhecer o governo golpista, quando João Goulart ainda se encontrava no Brasil.

(*) Currículo de Gordon NNDB

Veja quem foi João Goulart