Sair da Depressão

As emissões do FED, o banco central privado e independente dos EUA, vêm crescendo com incrível aceleração. Só nos últimos seis meses, as novas emissões chegaram a US$ 8 trilhões. Entretanto, qualquer economista dotado de alguma competência, e não condicionado pelas palavras de ordem do sistema, está vendo que mesmo emissões dessa grandeza fantástica são, de longe, insuficientes para deter o colapso financeiro nos EUA. A situação não é diferente no Reino Unido, nos países do euro e na Suíça.
 
Nos EUA passam de US$ 165 trilhões os derivativos dos quatro bancos com maior exposição.  Em todo o Mundo, segundo o Banco de Liquidações Internacionais (BIS na sigla em inglês), o estoque, em valor nominal, dos derivativos é da ordem de US$ 600 trilhões. Ninguém conhece o valor real, ou de mercado, desse Himalaia de lançamentos eletrônicos, mas quem acompanha a seqüência do colapso financeiro e examina suas causas, sabe que ele é pequena fração do valor nominal deles.
 
Sabe também que essa fração decresce à medida que a depressão da economia real entra em cena. Com esta, perdem cada vez mais valor os ativos finais sobre os quais os manipuladores do mercado fizeram assentar (?) a montanha de títulos derivados.
 
En passant, a oligarquia financeira mundial, cuja liderança tem no inglês sua língua materna (Reino Unido e EUA), não permite que os âncoras de televisão e demais comunicadores das redes jornalísticas usem palavras descritivas da realidade.  O colapso do sistema financeiro e o das moedas mundiais de reserva -  como dólar, euro,  libra “esterlina” e franco suíço – deve ser mais que claro para todos, pelo menos desde 2007.
 
Isso podia ser percebido, há muito mais tempo, por quem acompanhasse a expansão dos ativos financeiros nos últimos anos e o crescimento explosivo dos derivativos.  Mas os comunicadores só falam em crise, como se se tratasse de algo passageiro.
 
Depressão é outra palavra banida. É evidente, desde 2008, a derrocada econômica e social, início da depressão, que será provavelmente mais longa e profunda que a de 1930 a 1943.  Mas os papagaios do sistema continuam falando só em recessão e dizendo que ela poderá terminar este ano ou no próximo.
 
Para dar exemplo gritante, o principal banco exposto em derivativos nos EUA, o J.P. Morgan/Chase, os tem em valor nominal de 87,7 trilhões. Seus ativos financeiros somam US$ 1,77 trilhão (quase 50 vezes menos que o valor nominal dos derivativos), e a base de capital é 400 vezes menor.
 
Como assinalou Andrew Hughes, em artigo de 27 de janeiro, dados como esse são oficiais e disponíveis nas estatísticas do Controlador da Moeda dos EUA. Entretanto, como o analista previu, eles não estão sendo discutidos no debate do Congresso dos EUA ao votar novos socorros com dinheiro público em favor dos bancos enrascados com os derivativos.
 
O que o FED e o Tesouro dos EUA fazem é jogar mais gasolina na fogueira da futura hiperinflação, a qual só ainda não está presente por haver a demanda por consumo e por investimento despencado em decorrência da depressão em marcha. Esta, por sua vez, advém do colapso do crédito em face dos rombos nos balanços dos bancos, por causa de derivativos apoiados, como castelos de cartas, em ativos cada vez mais frágeis.
 
O dólar vinha caindo até o colapso ter levado investidores não-norte-americanos a se voltar de novo para os títulos do Tesouro americano. A  sobrevida do dólar provém do fato de os europeus se terem metido ainda mais fundo nos derivativos. Mas, em função da hiperinflação em dólares e do endividamento astronômico do Tesouro dos EUA, não vai demorar a ir para o espaço a idéia de que seus títulos possam ser porto seguro.
 
Isso não significa, como crêem alguns observadores, o fim do poder da oligarquia anglo-norte-americana, cujas dinastias comandam os governos dos EUA e do Reino Unido, sem falar nos dos quase-satélites europeus e outros, além dos das periferias. Essa oligarquia comanda as mentes, Mundo afora, através das universidades e controla o poder militar através daquelas potências e de suas associadas subalternas.
 
De qualquer modo, para evitar afundar-se no caos financeiro e na depressão, o único caminho para o Brasil seria desatrelar-se, o mais possível, da “comunidade internacional”, um enorme eufemismo para mascarar relações imperiais que fazem perpetuar o subdesenvolvimento do País em condições sociais, culturais e políticas crescentemente lastimáveis.
 
* - Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. [email protected]
As emissões do FED, o banco central privado e independente dos EUA, vêm crescendo com incrível aceleração. Só nos últimos seis meses, as novas emissões chegaram a US$ 8 trilhões. Entretanto, qualquer economista dotado de alguma competência, e não condicionado pelas palavras de ordem do sistema, está vendo que mesmo emissões dessa grandeza fantástica são, de longe, insuficientes para deter o colapso financeiro nos EUA. A situação não é diferente no Reino Unido, nos países do euro e na Suíça.
 
Nos EUA passam de US$ 165 trilhões os derivativos dos quatro bancos com maior exposição.  Em todo o Mundo, segundo o Banco de Liquidações Internacionais (BIS na sigla em inglês), o estoque, em valor nominal, dos derivativos é da ordem de US$ 600 trilhões. Ninguém conhece o valor real, ou de mercado, desse Himalaia de lançamentos eletrônicos, mas quem acompanha a seqüência do colapso financeiro e examina suas causas, sabe que ele é pequena fração do valor nominal deles.
 
Sabe também que essa fração decresce à medida que a depressão da economia real entra em cena. Com esta, perdem cada vez mais valor os ativos finais sobre os quais os manipuladores do mercado fizeram assentar (?) a montanha de títulos derivados.
 
En passant, a oligarquia financeira mundial, cuja liderança tem no inglês sua língua materna (Reino Unido e EUA), não permite que os âncoras de televisão e demais comunicadores das redes jornalísticas usem palavras descritivas da realidade.  O colapso do sistema financeiro e o das moedas mundiais de reserva –  como dólar, euro,  libra “esterlina” e franco suíço – deve ser mais que claro para todos, pelo menos desde 2007.
 
Isso podia ser percebido, há muito mais tempo, por quem acompanhasse a expansão dos ativos financeiros nos últimos anos e o crescimento explosivo dos derivativos.  Mas os comunicadores só falam em crise, como se se tratasse de algo passageiro.
 
Depressão é outra palavra banida. É evidente, desde 2008, a derrocada econômica e social, início da depressão, que será provavelmente mais longa e profunda que a de 1930 a 1943.  Mas os papagaios do sistema continuam falando só em recessão e dizendo que ela poderá terminar este ano ou no próximo.
 
Para dar exemplo gritante, o principal banco exposto em derivativos nos EUA, o J.P. Morgan/Chase, os tem em valor nominal de 87,7 trilhões. Seus ativos financeiros somam US$ 1,77 trilhão (quase 50 vezes menos que o valor nominal dos derivativos), e a base de capital é 400 vezes menor.
 
Como assinalou Andrew Hughes, em artigo de 27 de janeiro, dados como esse são oficiais e disponíveis nas estatísticas do Controlador da Moeda dos EUA. Entretanto, como o analista previu, eles não estão sendo discutidos no debate do Congresso dos EUA ao votar novos socorros com dinheiro público em favor dos bancos enrascados com os derivativos.
 
O que o FED e o Tesouro dos EUA fazem é jogar mais gasolina na fogueira da futura hiperinflação, a qual só ainda não está presente por haver a demanda por consumo e por investimento despencado em decorrência da depressão em marcha. Esta, por sua vez, advém do colapso do crédito em face dos rombos nos balanços dos bancos, por causa de derivativos apoiados, como castelos de cartas, em ativos cada vez mais frágeis.
 
O dólar vinha caindo até o colapso ter levado investidores não-norte-americanos a se voltar de novo para os títulos do Tesouro americano. A  sobrevida do dólar provém do fato de os europeus se terem metido ainda mais fundo nos derivativos. Mas, em função da hiperinflação em dólares e do endividamento astronômico do Tesouro dos EUA, não vai demorar a ir para o espaço a idéia de que seus títulos possam ser porto seguro.
 
Isso não significa, como crêem alguns observadores, o fim do poder da oligarquia anglo-norte-americana, cujas dinastias comandam os governos dos EUA e do Reino Unido, sem falar nos dos quase-satélites europeus e outros, além dos das periferias. Essa oligarquia comanda as mentes, Mundo afora, através das universidades e controla o poder militar através daquelas potências e de suas associadas subalternas.
 
De qualquer modo, para evitar afundar-se no caos financeiro e na depressão, o único caminho para o Brasil seria desatrelar-se, o mais possível, da “comunidade internacional”, um enorme eufemismo para mascarar relações imperiais que fazem perpetuar o subdesenvolvimento do País em condições sociais, culturais e políticas crescentemente lastimáveis.
 
* – Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. [email protected]