Raul Carrion: “Jango nunca foi comunista. Era um nacionalista com grande sensibilidade social”


Osvaldo Maneschy e Apio Gomes
16/04/2019

Na opinião de Raul Carrion, o presidente João Goulart, fazendeiro em sua origem, foi um homem que teve a capacidade de compreender o tempo em que viveu, tornando-se um progressista, contrário aos conservadores, aos reacionários, aos entreguistas. “Jango sempre esteve ao lado do povo, do Brasil e da democracia”.

As reformas de base defendidas por Jango em seu governo, segundo Carrion, “são aspirações do povo brasileiro desde o século retrasado. O Brasil precisa da reforma agrária, da reforma universitária, tributária e bancária. O movimento das reformas buscava a modernização do Brasil para torná-lo mais justo e soberano”.

Na visão de Carrion, os processos políticos que o Brasil vivenciou em 54, com o suicídio de Vargas, em 61, com a luta de Brizola pela posse de Jango, liderando a Legalidade e em 1964, com o golpe militar – “observamos hoje, com o processo que vivemos de confronto entre os dois campos: o popular, democrático, nacionalista que busca construir um projeto de Nação para o Brasil e o da elite, integrado por grandes proprietários de terras e burguesia financeira associada às multinacionais, que acham que o Brasil não deve ser soberano, mas apenas uma neocolônia dos EUA”.

Relembrando Barbosa Lima Sobrinho, Carrion frisa: “Podemos afirmar que o Brasil se divide em dois blocos, o de Tiradentes e o de Silvério dos Reis”.

Jango, segundo Carrion, optou, em sua trajetória política, pelo campo popular e isto o obrigou, após o golpe, a viver e morrer no exílio, onde também se tornou alvo da Operação Condor: multinacional do terror, criada pelos governos de extrema-direita que controlavam a vida dos povos da América Latina, naquela época. Era uma organização terrorista clandestina, que liquidou: o general peruano Juan José Torres, na Argentina; o general Prates, no Chile; o ex-chanceler chileno Orlando Letelier, nos EUA; e que também teve como alvo o presidente João Goulart vivendo no exílio. “Até hoje existem muitas dúvidas sobre a morte de Jango”, afirmou.

Segundo Carrion, “Jango nunca foi comunista – seria mérito se fosse. Também não era corrupto. Era um nacionalista com grande sensibilidade social, trato afável, homem de grande bondade pessoal. Um fazendeiro com a vida resolvida que se dedicou à luta do povo”.

Confira a entrevista completa abaixo: