Por mais respeito ao trabalhador

Imagem: Pixabay

Por Allan Kardec Benitez
01/05/2020

Chegamos a um primeiro de maio atípico, sem as tradicionais manifestações das centrais sindicais, sem as aglomerações de operários em marcha por melhores condições de trabalho. Há um abismo na condição dos trabalhadores brasileiros que viram, nos últimos anos, seus direitos serem desidratados, retalhados, esvaziados sob um ilusório argumento de um desenvolvimentismo econômico caquético, um neoliberalismo capenga que tirou a segurança social que sustentava os direitos trabalhistas.

Nos dias de hoje ter um emprego é uma dádiva. A estabilidade cedeu lugar às atividades econômicas sem nenhuma segurança ao trabalhador, que se arrisca diariamente para obter a tão esperada renda que colocará o prato de comida sobre a mesa de sua família.

Digo isso, pois a realidade é que existem quase 13 milhões de desempregados no Brasil, número que aumenta a cada dia. Isso sem contar a informalidade, registrada sob a alcunha de autônomos, que buscam diariamente o sustento com seu próprio esforço, sem qualquer amparo das legislações trabalhistas. Nesse bojo estão os trabalhadores da Economia da Cultura e do Turismo, que vivem de cachês, gorjetas ou couverts artísticos. Ainda não somamos os subempregos e nem a massa de profissionais que perderam as garantias da CLT para contratos temporários, sem décimo terceiro, férias e outras garantias.

Há ainda uma multidão de homens e mulheres que circulam em motocicletas, bicicletas e em carros muitas vezes alugados, na árdua tarefa de servirem aos aplicativos, assinando contratos perversos que, com base nas novas leis trabalhistas, não possuem vínculo empregatício com as bilionárias startups que aumentam seu faturamento dia após dia nos papéis negociados em bolsas de valores, tão distantes do chão que percorrem.

Esse “novo trabalho” vangloriado pelo progresso tecnológico, cria uma miríade de trabalhadores que se esforçam doze, quinze horas por dia para conseguir um mínimo de renda. Aos entregadores de aplicativos, as empresas não garantem nem sequer os equipamentos laborais necessários. Pedalam em suas próprias bicicletas, carregando uma bolsa nas costas que eles mesmos compram como um investimento para buscarem ínfimas margens de lucro, muitas vezes alguns centavos a cada corrida.

Não cheguei ainda aos idosos, que aos sessenta, setenta, oitenta anos ainda se arriscam pelas ruas, sem qualquer amparo ou uma aposentadoria para vislumbrar no horizonte. O Brasil transformou os trabalhadores em uma massa de miseráveis vivendo com renda mínima e ainda sendo responsáveis por carregar a economia do país nas costas.

Diante da pandemia do coronavírus e das medidas de isolamento social, vimos a economia definhar sem os trabalhadores brasileiros para sustentá-la. A alienação do trabalho demonstra que a classe operária tudo produz, mas a ela nada pertence.

É o momento de criarmos novos instrumentos de luta para a classe trabalhadora, que alcance essa multidão marginalizada do poder econômico diante da ganância sedenta pelo lucro, criada por esse modelo econômico em curso no Brasil. É inaceitável que o Estado brasileiro sirva aos interesses que sustentam o grande capital enquanto deixa as pessoas a sua própria sorte. Vemos um neoliberalismo sustentado às custas do Estado, que financia banqueiros em detrimento de seu próprio povo, desmoraliza o trabalhador como se ele fosse um oportunista querendo viver às custas do poder público, quando é ele próprio que se sacrifica sem qualquer amparo.

Sei que por trás dessa densa nuvem de incertezas se esconde uma nova forma de organização política do trabalhador, e é isso que buscamos construir cotidianamente e coletivamente no Partido Democrático Trabalhista. Os mesmos anseios de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e tantos outros companheiros aos quais honramos suas memórias nesses novos tempos.

O trabalhador há de vencer essa batalha, que é de todos nós. E o PDT sempre estará junto do Trabalhismo, em Mato Grosso e em todo Brasil, lutando por mais respeito e direitos, porque só assim seremos uma nação desenvolvida. Defender o trabalhador é cuidar das pessoas no presente, para garantir as oportunidades que ensejarão um futuro mais promissor para as próximas gerações.

 

*Allan Kardec Benitez é Professor da rede estadual de Educação, possui mestrado e doutorado em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT, é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Secretário Estadual de Cultura, Esporte e Lazer de MT, Deputado Estadual licenciado e presidente do Diretório Estadual do PDT-MT.