“Organizar a luta, fortalecer a Juventude e vencer 2018”


Por Elizângela Isaque
13/10/2017

Militante do PDT carioca desde os 16 anos de idade, William Rodrigues, novo presidente nacional da Juventude Socialista (JS), pode ser considerado um símbolo da histórica luta do Trabalhismo no Brasil. Filho de uma cobradora de ônibus divorciada, ele sabe o que é nascer negro e pobre em um país onde o preconceito e a desigualdade social empurram milhões de pessoas para pobreza e para a criminalidade.

Advogado, formado em Direito, graças ao ProUni, William se declara um defensor das cotas como forma de promover a inclusão social. “Sempre vi na educação a forma mais revolucionária de desafiar a realidade e mudar o mundo”, afirma o jovem, que já apresenta em seu currículo a experiência de ter atuado na administração pública, no gabinete de uma autarquia municipal.

Nesta entrevista, concedida ao site do PDT Nacional, o jovem revela suas motivações para presidir o movimento do PDT, bem como a importância da JS em sua formação pessoal e política. “A Juventude Socialista é minha maior escola de cidadania; a organização para a qual eu dediquei os melhores anos da minha juventude”, declara o presidente.

Ao apresentar as aspirações da nova composição do movimento pedetista, composta majoritariamente por mulheres e LGBTs, William deixa claro que é tempo de mudanças. “Queremos lançar o maior censo já feito por uma organização juvenil no Brasil: saber quem somos, quantos somos, onde estamos e muito mais”, revela.

Ao longo da entrevista, o pedetista também acrescenta: “Nosso objetivo é formar, sistematicamente, a nossa militância – tanto para o empoderamento da Juventude nos espaços do Partido, quanto para a militância e a luta política de 2018”, diz William Rodrigues.

 

Como e você chegou ao PDT?

William Rodrigues  Eu disputava a eleição do grêmio do Oscar Tenório, em Marechal Hermes, subúrbio do Rio, e fui ao gabinete do vereador Brizola Neto, na Câmara do Rio, para tirar algumas xeroxes de material de campanha. De repente, um assessor dele me chamou para um bate papo; depois, participei de uma reunião da JS… Pronto, já estava filiado ao PDT! O ano era 2006. Eu tinha acabado de completar 16 anos; e o assessor era o companheiro Everton Gomes, a quem substituí, recentemente, na presidência da JS.

 

 Por que o PDT?

 WR – Eu venho do subúrbio do Rio de Janeiro, filho de mãe divorciada, cobradora de ônibus; vida difícil.  Adulto prematuro, sempre vi na educação a forma mais revolucionária de desafiar a realidade e mudar o mundo. Quando, logo nos primeiros contatos, fui sendo apresentado às ideias do PDT, ao legado do Trabalhismo de Vargas e Jango, ao que representava Brizola, às ideias de Darcy Ribeiro. Não dá para teorizar: foi paixão à primeira vista! O PDT é, sem dúvidas, o partido dos pés descalços; o partido do jovem, cuja indignação e o brilho no olho formam nosso único patrimônio.

 

O que a JS significa para você?

 WR – A Juventude Socialista é minha maior escola de cidadania; a organização para a qual eu dediquei os melhores anos da minha juventude. Os melhores. Nos últimos 11 anos, a JS sempre teve minha atenção e prioridade. É a JS que nos permite lutar pelas transformações nas quais acreditamos. Mudar o mundo, vencer os opressores. Isso é o que move milhares de jovens anônimos que, diariamente, saem de casa para defender as nossas bandeiras. Só uma organização potente e generosa é capaz de produzir, por mais de três décadas, os quadros políticos que geramos. Foi através da JS que eu me tornei líder estudantil; que conheci quase todas as capitais do país; que aprimorei meus talentos e tento superar meus defeitos, através do esforço coletivo e da autocrítica. E mais: que eu perdi o medo de falar; que eu durmo mais tarde e acordo mais cedo. Mas estes ganhos individuais precisam se tornar coletivos: é pela JS que eu passo tanto tempo longe de casa, gastando sola de sapato e muita saliva. Afinal, o mais importante é que a Juventude Socialista seja, para um número cada vez maior de jovens, a escola que tem sido pra mim.

 

O que o motivou se candidatar à presidência da JS?

WR – Primordialmente, dar vez e voz a todos os agentes anônimos que construíram e constroem a nossa organização; e que, por anos e anos, sempre ficaram nos bastidores, segurando bandeira, puxando grito de guerra, sem nunca ter alçado posições de liderança. Fazer com que a presidência da JS seja um retrato fiel da sua militância. Para alcançar este objetivo, é necessário empreender e realizar um grande programa de reformas na JS. Sem a perspectiva de um programa sólido, coletivo, generoso e audacioso não haveria candidatura, não haveria William presidente. Só com desprendimento teremos cada vez mais uma Juventude forte e unida.

 

 Quais as prioridades de ação da nova composição da JS?

 WR – Temos um programa de reformas bem robusto, que passa por alterações já aprovadas, como a redução da idade e a paridade de gênero nas próximas Direções da JS. Além disto, existem pontos de atenção especial, como: informação; formação política; núcleos de base; e 2018. Queremos lançar o maior censo já feito por uma organização juvenil no Brasil: saber quem somos, quantos somos, onde estamos e muito mais. Nosso objetivo é formar, sistematicamente, a nossa militância – tanto para o empoderamento da Juventude nos espaços do Partido, quanto para a militância e a luta política de 2018. Para obtermos êxito, é preciso vestir a camisa do projeto de nucleação da FLB-AP e construir uma grande rede de núcleos de base da JS para – além destas ações centrais – construir mecanismos de fortalecimento e protagonismo da JS durante todo o processo eleitoral de 2018. “Organizar a luta; fortalecer a Juventude; e vencer 2018”: este é o nosso mantra.

 

Como você vê a formação política da juventude militante de esquerda, em geral; sobretudo neste atual cenário político que atravessa o Brasil?

 WR – Poucos partidos investem tanto em formação política quanto o PDT, através da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, da ULB e da Rádio Legalidade; além de atividades de alguns movimentos, ainda que de maneira isolada. A Juventude que já está engajada politicamente – seja em partidos, seja em organizações da sociedade civil, coletivos, redes – é uma juventude que, no geral, procurou, de alguma forma, se qualificar politicamente. O nosso desafio é atingir a grande massa da juventude que: ou comprou o discurso que criminaliza a política; ou foi engolida pela vida cada vez mais corrida. Nossa tarefa é cumprir o que Brizola, sempre pioneiro, já pregava: “espalhar mentes esclarecidas por cada canto deste Brasil”.

 

Como a JS, e, especificamente a nova direção, vê a candidatura de Ciro Gomes para a Presidência?

 WR – Cada militante da JS é um soldado nesta grande trincheira que vem se formando em defesa do Brasil, que se chama Ciro Gomes. Desde o primeiro momento, quando o Ciro se filiou, nós assumimos a defesa da urgente necessidade da sua candidatura. O Ciro encarna o que o Brasil precisa: firmeza, experiência e esperança. Por exemplo: grande parte do planejamento da nossa gestão é voltada para o desafio eleitoral de 2018. Núcleos de base, coletivos, novas plataformas de comunicação e mobilização, candidaturas da JS; enfim, em cada célula da JS pulsa a convicção de que todo o esforço será feito para libertar o Brasil e reconquistar direitos, olhando para o futuro, ao elegermos Ciro Gomes Presidente.

 

Há perfis distintos entre os jovens brasileiros simpatizantes do Ciro? Pode-se dizer que os estudantes que o admiram são, majoritariamente, alunos de universidades federais?

WR – Sem dúvida, o traço característico da juventude brasileira é a pluralidade. Tanto que alguns estudiosos e ativistas preferem o termo juventudes, no plural. E a base social que apoia e simpatiza com o Ciro Gomes não é diferente. Ele mobiliza e dialoga com a juventude de forma extremamente plural. Mas Brasil é um país continental (a exemplo da juventude, são “Brasis”). Há que se aproveitar as melhores oportunidades de dialogar com a sociedade. Hoje, estas oportunidades têm estado nas universidades federais, em que existe mais tradição e liberdade para o debate político; e que condensa um pouco de todo o tecido social em seus bancos (lembremos dos cotistas). Nos próximos meses, queremos construir uma série de agendas que permita um diálogo mais direto entre o Ciro e as diversas Juventudes: a galera que faz cultura; a galera da favela; a turma dos games; os jovens empreendedores.

 

A que você atribui a vitória de uma chapa composta majoritariamente por mulheres e LGBTs dentro do movimento de maior importância para a formação da base política do Partido?

 WR – Ao programa que apresentamos durante o Congresso. Ao empenho de cada militante, de cada jovem mulher, de cada companheiro que entendeu a necessidade de construir uma chapa que retratasse, com fidelidade, o programa que construímos. Cada dia mais, as mulheres, e nós – LGBTs – assumimos espaços de protagonismo e responsabilidade. Chegou a vez de assumirmos o comando do processo político. Mas o marco da nova gestão será a unidade, o diálogo permanente entre nossa direção e o Diretório Nacional; e o empoderamento de toda esta galera, ao longo dos próximos dois anos. Tudo isto com muita participação coletiva.

 

A bandeira da defesa da equidade de gênero teve algum peso no resultado dessa eleição da JS?

 WR – Esta paridade de gênero foi construída ao longo dos últimos anos, e chegou ao Congresso quase que como um consenso da nossa organização. Um detalhe ou outro gerava divergência; no calor do Congresso, é natural, isto se agiganta. A eleição da nova Direção, repito, tem como base fundamental o programa de reformas, construído e apresentado ao conjunto de delegadas e delegados presentes no nosso Conjus. A vitória das mulheres e a luta por mais espaços devem ser de todos nós, jovens socialistas. Queremos e vamos construir uma gestão coletiva. Todas e todos são muito bem-vindos para chegar junto e construir grandes vitórias. O debate acumulado demanda uma série de ações, que queremos que elas, por suas próprias mãos, executem, como a construção do Coletivo Nacional de Jovens Mulheres, o Encontro de Mulheres da JS, entre tantas outras.

 

O PDT é o primeiro partido do País a ter um movimento voltado exclusivamente para a causa LGBT: o PDT Diversidade. Agora, com a nova composição da JS, o público LGBT ganha mais representatividade dentro da legenda. Que tipo de mudanças isto pode promover dentro e fora do Partido?

WR – O PDT vem avançando muito neste debate, que, durante muito tempo, foi deixado para trás e monopolizado por outros partidos de esquerda. O PDT Diversidade é uma ferramenta fundamental para o Partido: para superarmos contradições e equívocos. Na JS, este não é um debate novo. São quase 10 anos, desde a semente lançada em seu XIII Congresso, em 2007, no Rio de Janeiro. Depois, veio o pioneirismo do Núcleo Flores do Serrado, no DF; do MDC, em Minas Gerais; e do Núcleo Cazuza, no Rio. As primeiras participações em Conferências LGBT se deram com quadros da JS, até chegarmos no I Encontro LGBT da JS, durante o XV Congresso, em Fortaleza 2012. Juventude é ousada por natureza. Quando os jovens LGBTs participam dos eventos do Partido, nas suas mais variadas formas de expressão, debatem, se posicionam: isto quebra barreiras, derruba paradigmas. É claro que você ter na liderança da JS um jovem assumidamente gay, e uma Direção Nacional com diversos jovens LGBT, contribui com a luta e com o desenvolvimento da agenda de diversidade no Partido. Colocamos a cara ao sol. Agora, é derrubar todos os armários ideológicos que atravancam a luta! Viva a JS! Viva o PDT. Viva o Brasil, com Ciro Presidente!