O drama dos trabalhadores da Varig

Um dos efeitos mais perversos do processo que muitos insistem chamar de “recuperação da Varig” é o sofrimento imposto aos seus milhares de funcionários, absolutamente abandonados, órfãos de qualquer direito até o momento. Estes mais de 16 mil trabalhadores, contribuintes do Fundo de Pensão Aerus (com mais de 7 mil já aposentados), viram-se também furtados em suas poupanças previdenciárias de toda uma vida. E, hoje, a maioria sofre com necessidades indescritíveis. Isto os que ainda resistem, posto que muitos colegas já faleceram, vítimas do desgosto, do desespero e da desesperança com que assistiram suas famílias sofrerem toda sorte de necessidade, enquanto a Justiça – que na cegueira tinha uma virtude – hoje parece fazer questão de não enxergar a urgência de se tornar presente. 
A taxa de mortalidade do grupo aumentou em quase 50%, com todo o drama resultante da irrecuperável situação que mancha de sangue as mãos de seus condutores. Abandonados por tudo e por todos, os que ainda sobrevivem são testemunhas e vítimas de incontáveis espertezas, muitas artimanhas, inúmeros atos de gestão ruinosa, omissões indesculpáveis, descaradas fraudes a credor, incríveis tramóias processuais e tudo o mais que o descalabro das instituições sociais permite vicejar impunemente em nosso país. 
Neste ambiente, assistiram o governo federal fazendo questão de promover o fim da empresa, enquanto já lhe devia mais de R$ 6 bilhões no processo de congelamento tarifário – quantia mais que suficiente para recuperá-la de fato e, ainda, proteger os próprios cofres públicos. Assistiram, também, à executiva do sindicato laboral agir continuamente em desobediência à determinação da categoria, para beneficiar os patrões com quem se conluiaram. Continuam assistindo, aos mesmos, fingirem que o governo promoveria um acordo no mencionado processo, comportamento cada vez mais evidenciado como um artifício para adiar sua condenação final no STF.
Assistiram, ainda, desde 2002, a Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social recusar-se formalmente a intervir no Aerus. Depois, em 2006, quando a intervenção só poderia piorar o quadro, assistiram-na ser promovida. E muito mais têm assistido. Até a decretação judicial de que uma recuperação de fato nunca ocorrida se teria encerrado com sucesso. Neste especifico ponto, vale lembrar a frase esculpida por um filósofo chinês contemporâneo, para comemorar junto aos mais próximos asseclas seu passeio nos tribunais pátrios: “Bem-vindos ao tempo real do mundo dos mercados emergentes, onde a esperteza e a rapidez de raciocínio atropelam as leis e regras na definição dos acordos” (Chan Lap Wai). 
Milhares de cruzes na Praia de Copacabana marcaram, quarta-feira, esta triste realidade. A esmagadora maioria foi carregada por vitimas inocentes dos algozes acima – como um apelo à sociedade para que todos se mobilizem em torno deste drama que é nosso, mas certamente pode atingir qualquer participante dos fundos de pensão hoje ao sabor do (des)governo vigente.

Élnio Borges Malheiros é presidente da Associação de Pilotos da Varig (Apvar)

Um dos efeitos mais perversos do processo que muitos insistem chamar de “recuperação da Varig” é o sofrimento imposto aos seus milhares de funcionários, absolutamente abandonados, órfãos de qualquer direito até o momento. Estes mais de 16 mil trabalhadores, contribuintes do Fundo de Pensão Aerus (com mais de 7 mil já aposentados), viram-se também furtados em suas poupanças previdenciárias de toda uma vida. E, hoje, a maioria sofre com necessidades indescritíveis. Isto os que ainda resistem, posto que muitos colegas já faleceram, vítimas do desgosto, do desespero e da desesperança com que assistiram suas famílias sofrerem toda sorte de necessidade, enquanto a Justiça – que na cegueira tinha uma virtude – hoje parece fazer questão de não enxergar a urgência de se tornar presente. 
A taxa de mortalidade do grupo aumentou em quase 50%, com todo o drama resultante da irrecuperável situação que mancha de sangue as mãos de seus condutores. Abandonados por tudo e por todos, os que ainda sobrevivem são testemunhas e vítimas de incontáveis espertezas, muitas artimanhas, inúmeros atos de gestão ruinosa, omissões indesculpáveis, descaradas fraudes a credor, incríveis tramóias processuais e tudo o mais que o descalabro das instituições sociais permite vicejar impunemente em nosso país. 
Neste ambiente, assistiram o governo federal fazendo questão de promover o fim da empresa, enquanto já lhe devia mais de R$ 6 bilhões no processo de congelamento tarifário – quantia mais que suficiente para recuperá-la de fato e, ainda, proteger os próprios cofres públicos. Assistiram, também, à executiva do sindicato laboral agir continuamente em desobediência à determinação da categoria, para beneficiar os patrões com quem se conluiaram. Continuam assistindo, aos mesmos, fingirem que o governo promoveria um acordo no mencionado processo, comportamento cada vez mais evidenciado como um artifício para adiar sua condenação final no STF.
Assistiram, ainda, desde 2002, a Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social recusar-se formalmente a intervir no Aerus. Depois, em 2006, quando a intervenção só poderia piorar o quadro, assistiram-na ser promovida. E muito mais têm assistido. Até a decretação judicial de que uma recuperação de fato nunca ocorrida se teria encerrado com sucesso. Neste especifico ponto, vale lembrar a frase esculpida por um filósofo chinês contemporâneo, para comemorar junto aos mais próximos asseclas seu passeio nos tribunais pátrios: “Bem-vindos ao tempo real do mundo dos mercados emergentes, onde a esperteza e a rapidez de raciocínio atropelam as leis e regras na definição dos acordos” (Chan Lap Wai). 
Milhares de cruzes na Praia de Copacabana marcaram, quarta-feira, esta triste realidade. A esmagadora maioria foi carregada por vitimas inocentes dos algozes acima – como um apelo à sociedade para que todos se mobilizem em torno deste drama que é nosso, mas certamente pode atingir qualquer participante dos fundos de pensão hoje ao sabor do (des)governo vigente.

Élnio Borges Malheiros é presidente da Associação de Pilotos da Varig (Apvar)