Loucura Bolsonaro


Por Wellington Penalva
16/07/2019

Frente à nova patologia social, o antídoto é “Conhecimento acima de tudo, ignorância longe de todos”

Zonzo. Atordoado. Literalmente perdido. Assim está o brasileiro diante do primeiro semestre do “novo” Governo. De fato, o país desce a ladeira há quase seis anos, mas agora parece encontrar um manicômio no final da pirambeira. Reforma da Previdência, achaque da Embraer, cocaína na FAB, hemorragia na Educação, desmonte geral do Estado, tudo coroado com comentários… difícil adjetivar. Seguindo a tradição bolsonarista desde os tempos de CQC – extinto programa da TV Bandeirantes –, a desgraça se apresenta de forma hilariante. Impõem-nos o lugar de hiena: sorrindo enquanto, ávida e alegremente, comemos carniça.

“O Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer”, disse o presidente Bolsonaro sobre a Amazônia, durante viagem para reunião do G-20. “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”, twittou o ministro da Educação Abraham Weintraub, no intuito de fazer piada com o caso do sargento da aeronáutica que transportava 39 kg de cocaína em um dos aviões da comitiva presidencial, em junho.

Exemplos toscos não faltam. É possível seguir laudas e mais laudas lembrando os chocolates do ministro da Educação, as declarações aluadas de ocupantes do primeiro escalão do Executivo ou os hambúrgueres que qualificam o púbere Dudu a comandar a embaixada brasileira na casa do tio Trump. A Corte Bolsonaro parece, antes de qualquer coisa, querer tomar o lugar da Família Trapo (com perdão a quem, nesse caso, fazia arte). Do palco, nos fazem rir; atrás da coxia, depenam o Brasil.

Transformaram o Ministério do Meio-ambiente em secretaria vinculada a Pasta da Agricultura – no linguajar presidencial: o prostíbulo agora toma conta das donzelas. Educação e Pesquisa sofreram cortes que somam quase R$ 6 bilhões e a equipe alfa do MEC é composta por especialistas em economia, tendo como mentor o astrólogo Olavo de Carvalho, a coqueluche da intelectualidade bolsonariana. “Paulo Freire? Esse não está à altura do novo governo”, garantem espumando pelos cantos da boca.

A proposta de nação defendida pelo grupelho retrô, mais naftalinado do que o de 1964, encampado no Palácio do Planalto segue a ordem do “des”: desfazer, desconstruir, desagregar, desestabilizar e assim por diante. A Embraer agora é fonte tecnológica da Boeing – compraram a preço de banana. A tecnologia do pré-sal está na roda, assim como a própria Petrobras. Direto na carne do povo arde o sucateamento do Ministério do Trabalho, com destaque para o combate ao trabalho escravo, e a mal explicada Reforma da Previdência, aprovada pela Câmara à base da barganha: foram liberados mais de R$ 4 bilhões em emendas.

Quem veio acabar com a velha política está nos devolvendo o velho Brasil. Se bem que, pela lógica de Messias – “se está sendo criticado, sinal que é a decisão adequada” –, o problema pode estar em quem enxerga o sistemático retrocesso em curso. É a narrativa da corte manicomial que tenta, e até consegue, levar seu senso de normalidade adiante, legitimado por uma seleta equipe de cientistas graduados em Ciências Ocultas e pós-graduados em Letras Apagadas, integrantes da situação ou de seu fã-clube. Não permanecerá por muito tempo.

Dia a dia, o governo se embola em sua própria sandice. Logo vai acabar. No máximo, em três anos e meio. Uma doença inalcançável à psiquiatria, ou à própria medicina, que desaparecerá tão inexplicavelmente quanto uma virose. O que pode durar muito são as sequelas. Quanto tempo o país precisará para reconstruir o que está sendo destruído? Voltar à normalidade custa caro e dá mais trabalho do que alcançá-la pela primeira vez.

“Deus acima de tudo, Brasil acima de todos” é a máxima estampada na porta do hospício em que chegamos. Não sei que espécie de paciente você é: depressivo, esquizofrênico ou bipolar (com toda licença a quem enfrenta esses distúrbios), mas posso te tranquilizar que a patologia é transitória. Não sou médico, mas afirmo categoricamente para esquecer o rivotril, o amplictil e o tryptanol. Essa doença mental coletiva só pode ser curada com um remédio: conhecimento.

Leia, informe-se sobre a história nacional, compreenda quais lutas travamos nos últimos 130 anos para depurar a idéia de República. Veja quanto tempo dedicamos às conquistas trabalhistas, ao direito da mulher, dos negros, dos gays, dos idosos, das crianças. Sinta o quão doloroso nos foi conquistar e reconquistar a democracia. Bolsonaro pode – e deve – até permanecer presidente, mas seus delírios só farão efeito às suas hienas de estimação. Quem sabe não é possível readequar o bordão para “Conhecimento acima de tudo, Ignorância longe de todos”.

*Wellington Penalva é jornalista, integrante da equipe de comunicação do PDT Nacional.