Leonel Brizola Neto discursa no Rio

Discurso do vereador Leonel Brizola Neto, no dia 25/8/2009, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro:

O que me traz a este microfone, a esta tribuna, Sr. Presidente, é que ontem fez 55 anos da Carta Testamento da morte de Getúlio Vargas.

Eu queria ler, em breves palavras, esta infeliz atualidade das denúncias que o Presidente Getúlio Vargas fez nas últimas horas de vida. Acho que poucas pessoas tem acesso a esta Carta Testamento e que deveria ser colocada em todas as escolas públicas, para tomarmos conhecimento do fio da história.

"Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. 
 
Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História." 
 
Estas foram as últimas palavras do Presidente Getúlio Vargas, cuja morte fez, ontem, 55 anos. Fazendo analogia, Sr. Presidente, vemos que muito pouca coisa mudou. Fazendo um paralelo de mudanças promovidas por Vargas e nossa atual agenda política, algumas coisas podem andar no mesmo caminho.

A campanha "O petróleo é nosso", levantada pela bancada do PTB, na Câmara Federal, que garantiu a criação da Petrobras em 1953, junto com o monopólio estatal do petróleo, traduz hoje na defesa intransigente do monopólio estatal do petróleo na camada de pré-sal, através de uma Petrobras 100% estatal.

A educação democrática, gratuita e laica promovida por Vargas, através da criação do Ministério da Educação, em 14 de novembro de 1930, proporcionou o fomento e o desenvolvimento da engenhosidade e da criatividade intelectual do povo brasileiro. Atualmente, o Brasil precisa assegurar um ensino que promova não apenas a acessibilidade do estudante ao mercado de trabalho, mas, acima de tudo, venha forjar cidadãos aptos a transformar e se engajarem em um projeto de soberania e desenvolvimento nacional.

A criação, por Vargas, da Justiça Eleitoral e do Código Eleitoral, no início da década de 1930, visou coibir os abusos eleitorais da Primeira República, ao assegurar a lisura do processo eleitoral, através do voto secreto. Atualmente, com o advento das urnas eletrônicas nos pleitos, não sabemos se o voto do cidadão condiz com a sua vontade. Nada melhor que assegurar a vontade do cidadão com a impressão do voto eletrônico, como o meio de amostragem para garantir a transparência do processo democrático.

A ampliação dos direitos das mulheres, estendido não apenas ao direito de voto à mulher em 1932, como também, a existência da primeira parlamentar, Carlota , Carlota Pereira de Queiroz, eleita por São Paulo em 1933. A extensão dos direitos trabalhistas à mulher trouxe maior dignificação ao papel atuante da mulher na sociedade. Hoje, muitas são as demandas, embora tenha ocorrido um avanço substancial às lutas travadas pelas mulheres brasileiras. Todavia, é preciso discutir cada vez mais como ampliar os espaços de atuação da mulher, tanto no campo político quanto em outros âmbitos, como o cultural, o econômico, dentre outras esferas.

A defesa da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1° de maio de 1943, como o resultado das lutas sociais travadas pelos trabalhadores, ao longo do tempo, como a diminuição da jornada de trabalho, direito a férias, aposentadoria, folga semanal, proteção aos menores de idade e às mulheres, dentre outras reivindicações.

Hoje, a campanha pela defesa da redução na jornada semanal e o aumento no percentual de ganho nas horas-extras faz lembrar que a luta pelo direito dos trabalhadores e viva e precisa ser mantida, contra a ganância de setores avessos às conquistas e direitos sociais da massa trabalhadora. O trabalho incansável do Ministro do Trabalho e Emprego Carlos Lupi é a continuidade das bandeiras que Vargas lutou em prol dos trabalhadores.

A defesa pelo patrimônio nacional. Vargas, em seus dois governos, criou a Petrobras, a CSN, a Vale do Rio Doce, frente a outras empresas tão estratégicas e vitais ao desenvolvimento do nosso país. Durante a década de 1990, nunca houve um processo entreguista tão declarado quanto o projeto neoliberal levado a cabo pela Era FHC que desejava "acabar com a Era Vargas". Os interesses lesivos à nossa pátria não podem continuar! É preciso voltar ao projeto de reconstrução nacional proposto por Vargas.

Foi ele quem combateu arduarmente, principalmente Vereadores, esse desenvolvimento em cima do nosso subdesenvolvimento.

Eram essas as minhas considerações para lembrar um dia tão importante e tão pouco lembrado neste país. Talvez se nossos políticos atuais tivessem essa memória, não estariam fazendo esse papelão que fazem no Congresso e no Senado Federal, principalmente.

Obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade.


Discurso do vereador Leonel Brizola Neto, no dia 25/8/2009, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro:

O que me traz a este microfone, a esta tribuna, Sr. Presidente, é que ontem fez 55 anos da Carta Testamento da morte de Getúlio Vargas.


Eu queria ler, em breves palavras, esta infeliz atualidade das denúncias que o Presidente Getúlio Vargas fez nas últimas horas de vida. Acho que poucas pessoas tem acesso a esta Carta Testamento e que deveria ser colocada em todas as escolas públicas, para tomarmos conhecimento do fio da história.


“Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.


Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. 
 
Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.


Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.


Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.


E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.” 
 
Estas foram as últimas palavras do Presidente Getúlio Vargas, cuja morte fez, ontem, 55 anos. Fazendo analogia, Sr. Presidente, vemos que muito pouca coisa mudou. Fazendo um paralelo de mudanças promovidas por Vargas e nossa atual agenda política, algumas coisas podem andar no mesmo caminho.


A campanha “O petróleo é nosso”, levantada pela bancada do PTB, na Câmara Federal, que garantiu a criação da Petrobras em 1953, junto com o monopólio estatal do petróleo, traduz hoje na defesa intransigente do monopólio estatal do petróleo na camada de pré-sal, através de uma Petrobras 100% estatal.


A educação democrática, gratuita e laica promovida por Vargas, através da criação do Ministério da Educação, em 14 de novembro de 1930, proporcionou o fomento e o desenvolvimento da engenhosidade e da criatividade intelectual do povo brasileiro. Atualmente, o Brasil precisa assegurar um ensino que promova não apenas a acessibilidade do estudante ao mercado de trabalho, mas, acima de tudo, venha forjar cidadãos aptos a transformar e se engajarem em um projeto de soberania e desenvolvimento nacional.


A criação, por Vargas, da Justiça Eleitoral e do Código Eleitoral, no início da década de 1930, visou coibir os abusos eleitorais da Primeira República, ao assegurar a lisura do processo eleitoral, através do voto secreto. Atualmente, com o advento das urnas eletrônicas nos pleitos, não sabemos se o voto do cidadão condiz com a sua vontade. Nada melhor que assegurar a vontade do cidadão com a impressão do voto eletrônico, como o meio de amostragem para garantir a transparência do processo democrático.


A ampliação dos direitos das mulheres, estendido não apenas ao direito de voto à mulher em 1932, como também, a existência da primeira parlamentar, Carlota , Carlota Pereira de Queiroz, eleita por São Paulo em 1933. A extensão dos direitos trabalhistas à mulher trouxe maior dignificação ao papel atuante da mulher na sociedade. Hoje, muitas são as demandas, embora tenha ocorrido um avanço substancial às lutas travadas pelas mulheres brasileiras. Todavia, é preciso discutir cada vez mais como ampliar os espaços de atuação da mulher, tanto no campo político quanto em outros âmbitos, como o cultural, o econômico, dentre outras esferas.


A defesa da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1° de maio de 1943, como o resultado das lutas sociais travadas pelos trabalhadores, ao longo do tempo, como a diminuição da jornada de trabalho, direito a férias, aposentadoria, folga semanal, proteção aos menores de idade e às mulheres, dentre outras reivindicações.


Hoje, a campanha pela defesa da redução na jornada semanal e o aumento no percentual de ganho nas horas-extras faz lembrar que a luta pelo direito dos trabalhadores e viva e precisa ser mantida, contra a ganância de setores avessos às conquistas e direitos sociais da massa trabalhadora. O trabalho incansável do Ministro do Trabalho e Emprego Carlos Lupi é a continuidade das bandeiras que Vargas lutou em prol dos trabalhadores.


A defesa pelo patrimônio nacional. Vargas, em seus dois governos, criou a Petrobras, a CSN, a Vale do Rio Doce, frente a outras empresas tão estratégicas e vitais ao desenvolvimento do nosso país. Durante a década de 1990, nunca houve um processo entreguista tão declarado quanto o projeto neoliberal levado a cabo pela Era FHC que desejava “acabar com a Era Vargas”. Os interesses lesivos à nossa pátria não podem continuar! É preciso voltar ao projeto de reconstrução nacional proposto por Vargas.


Foi ele quem combateu arduarmente, principalmente Vereadores, esse desenvolvimento em cima do nosso subdesenvolvimento.


Eram essas as minhas considerações para lembrar um dia tão importante e tão pouco lembrado neste país. Talvez se nossos políticos atuais tivessem essa memória, não estariam fazendo esse papelão que fazem no Congresso e no Senado Federal, principalmente.


Obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade.