“Jango caiu por suas virtudes, não por seus defeitos”


Osvaldo Maneschy e Apio Gomes
16/07/2019

O radialista e jornalista João Batista de Melo Filho – Batista Filho, como é mais conhecido pelos gaúchos – começou a se interessar por política ainda menino em Pinheiro Machado, porque este era um tema que se falava muito em sua casa; e seu pai foi o fundador do primeiro diretório do PTB em Lagoa Vermelha: partido que, segundo ele definia, enfrentava “as forças do atraso” reunidas em torno da UDN e do PSD.

Corria o ano de 1950 quando seu pai fez campanha para dois jovens trabalhistas: um de São Borja, João Goulart, candidato a deputado federal; e o outro, Leonel Brizola, de Carazinho, que o pai definia como “jovem sonhador”.

Nesta mesma época, Batista Filho começou a acompanhar os noticiários sobre o governo de Getúlio Vargas; veio a crise provocada pelo aumento de 100% do salário mínimo, que ensejou a reorganização das forças reacionárias que não toleravam Getúlio no poder e a primeira derrota de Jango, obrigado a renunciar ao cargo de ministro do Trabalho.

Essas mesmas forças reacionárias “fizeram acontecer o suicídio de Getúlio”, em 1954. Mas não conseguiram impedir as vitórias de Juscelino Kubistchek e de João Goulart – para presidente e vice – na eleição presidencial seguinte. Nem a reeleição de Jango em 1960, embora o seu parceiro na chapa, o marechal Lott, tenha perdido para Jânio Quadros.

Batista Filho define a campanha da Legalidade como “maior movimento cívico espontâneo” já ocorrido no Brasil, liderado por Leonel Brizola, quando os gaúchos, e depois os brasileiros – pelas ondas do rádio –derrotaram o golpe das forças contrárias a João Goulart e a todos os progressistas remanescentes do governo de Vargas. A renúncia de Jânio, em sua opinião, “foi um delírio de grandeza” que não deu certo.

O sucesso da Legalidade foi fruto da “coerência e coragem” de Brizola aliadas à capacidade de “conciliar e compreender” de Jango, com a solução parlamentarista de Tancredo.

Sobre o golpe de 64, três anos depois, Batista Filho explica: “Jango caiu por suas virtudes, não por seus defeitos; porque ele tinha uma equipe preparada e sabia que o Brasil precisava avançar rompendo barreiras: furando esquemas antigos e ultrapassados de dominação, base das desigualdades no Brasil”. Daí toda a sua luta pelas reformas de base.

“As reformas agrária, política, tributária e, sobretudo, a bancária são reformas imprescindíveis que até agora ninguém teve coragem de realizar”, acrescentou.

Para Batista Filho, no Brasil nada é mais transparente, claro, objetivo e simbólico do que “a dominação do capital financeiro sobre os demais setores da economia”: daí a existência do controle da economia por “apenas cinco ou seis grandes bancos”. Esta concentração não existiria caso as reformas de base de Jango tivessem acontecido; mas como elas foram descartadas, isto causou um atraso “de 40 a 50 anos” em relação a outros países.

Ao sintetizar o João Goulart, Batista Filho disse que Jango não foi só um trabalhista, foi também um humanista e político inspirado que tentou fazer o que considerava certo, o que acreditava; mas foi impedido pelos que não querem que o bem dos brasileiros.

Confira a entrevista completa abaixo: