Globo e Record trocam acusações

A guerra santa da TV: Globo e Record trocam acusações

Paulo Ricardo Moreira, Jornal do Brasil

RIO - A briga entre Globo e Record esquentou – e pode piorar. Após a Justiça aceitar denúncia do Ministério Público de São Paulo contra Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e dono da Rede Record, e outros nove membros da igreja por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, as duas maiores emissoras de televisão do país passaram a trocar acusações, utilizando como armas os seus principais telejornais. Na Globo, o Jornal Nacional, o informativo de maior audiência do Brasil, apresentado por William Bonner e Fátima Bernardes, deu manchetes, nos últimos dias, para as denúncias feitas pelo MP contra Macedo. A Record contra-atacou no seu principal programa jornalístico, o Jornal da Record, exibido em horário nobre e comandado por Celso Freitas e Ana Paula Padrão – dois jornalistas que já estiveram do outro lado do front.

Nelson Hoineff, presidente do Instituto de Estudos de Televisão (IETV), acha a briga natural. Para ele, a credibilidade do jornalismo da Globo não vai ser afetada.
 
– Ela expressa de uma forma muito boa a liberdade de expressão que existe hoje. Talvez isso não fosse possível em outras épocas. É enriquecedor para o jornalismo.

Antonio Brasil, diretor acadêmico do IETV, tem outra visão da disputa entre as emissoras:

– Triste é o país que tem que escolher entre a liderança da Globo e as ameaças da Record. Todas elas têm um passado no mínimo polêmico. No fundo, a gente vê que a menor preocupação das duas é com o espectador.

Nesta quarta-feira, em mais um capítulo desta guerra, o Jornal da Record usou mais de 10 minutos de seu tempo para revidar os supostos ataques da Globo no Jornal Nacional. Em vez de responder às denúncias feitas contra seus líderes, o telejornal mostrou as obras assistenciais realizadas pela Universal, destacou as filiais da igreja espalhadas por 174 países e contabilizou os cerca de 8 milhões de fiéis no Brasil. Para justificar uma possível perseguição pela rival, a emissora do bispo Macedo fez até um gráfico para mostrar, comparativamente, que a Globo foi a emissora que mais tempo dedicou ao noticiário sobre o caso da Iurd. De acordo com o levantamento feito pela Record, a Globo gastou 10 minutos com o caso; o SBT, 7; e a Band, 2. A RedeTV! e a TV Cultura ainda não tinham tocado no assunto.

A repercussão no exterior
No mesmo dia, o Jornal da Globo, com William Waack, mostrou a repercussão no exterior das denúncias contra Macedo e seu grupo, acusados de usarem doações de fiéis em benefício próprio para comprar imóveis, carros e emissoras de TV e rádios. Minutos depois, o revide: uma edição especial do Fala que eu te escuto, programa religioso conduzido por pastores da Universal, exibiu trechos de um antigo documentário inglês contra a Globo. No programa, aparecia até o ex-governador do Rio Leonel Brizola criticando Roberto Marinho, o fundador da Rede Globo. 

Para a escritora Renata Pallottini, ex-professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, a guerra aberta entre Globo e Record deixa evidente uma disputa das emissoras por audiência e qualidade.
Juremir Machado, jornalista, escritor e professor universitário gaúcho, diz que a Globo está sentindo que tem um concorrente e decidiu atacar para fragilizá-lo.
– A Globo não tem moral para atacar ninguém. 

A Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (ABERT) não quis fala sobre o assunto. Procurada pelo Jornal do Brasil, a Globo, por meio da Central Globo de Comunicação, limitou-se a dizer: “Não nos cabe responder a essa agressão gratuita, porque, como é do conhecimento geral, o autor das denúncias é o Ministério Público de São Paulo”. A Record não quis se pronunciar sobre o caso. Mas, em seu Twitter (microblog pessoal), o bispo Macedo se defende das “acusações e perseguições da Globo” e escreve frases enigmáticas como “Quem serve a Deus é injustiçado e caluniado. Quem serve a si mesmo é admirado. Vamos ver quem sai ganhando”.

(Colaboraram Manuela Andreoni e Isabela Fraga)


A guerra santa da TV: Globo e Record trocam acusações

Paulo Ricardo Moreira, Jornal do Brasil

RIO – A briga entre Globo e Record esquentou – e pode piorar. Após a Justiça aceitar denúncia do Ministério Público de São Paulo contra Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) e dono da Rede Record, e outros nove membros da igreja por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, as duas maiores emissoras de televisão do país passaram a trocar acusações, utilizando como armas os seus principais telejornais. Na Globo, o Jornal Nacional, o informativo de maior audiência do Brasil, apresentado por William Bonner e Fátima Bernardes, deu manchetes, nos últimos dias, para as denúncias feitas pelo MP contra Macedo. A Record contra-atacou no seu principal programa jornalístico, o Jornal da Record, exibido em horário nobre e comandado por Celso Freitas e Ana Paula Padrão – dois jornalistas que já estiveram do outro lado do front.

Nelson Hoineff, presidente do Instituto de Estudos de Televisão (IETV), acha a briga natural. Para ele, a credibilidade do jornalismo da Globo não vai ser afetada.
 
– Ela expressa de uma forma muito boa a liberdade de expressão que existe hoje. Talvez isso não fosse possível em outras épocas. É enriquecedor para o jornalismo.

Antonio Brasil, diretor acadêmico do IETV, tem outra visão da disputa entre as emissoras:

– Triste é o país que tem que escolher entre a liderança da Globo e as ameaças da Record. Todas elas têm um passado no mínimo polêmico. No fundo, a gente vê que a menor preocupação das duas é com o espectador.

Nesta quarta-feira, em mais um capítulo desta guerra, o Jornal da Record usou mais de 10 minutos de seu tempo para revidar os supostos ataques da Globo no Jornal Nacional. Em vez de responder às denúncias feitas contra seus líderes, o telejornal mostrou as obras assistenciais realizadas pela Universal, destacou as filiais da igreja espalhadas por 174 países e contabilizou os cerca de 8 milhões de fiéis no Brasil. Para justificar uma possível perseguição pela rival, a emissora do bispo Macedo fez até um gráfico para mostrar, comparativamente, que a Globo foi a emissora que mais tempo dedicou ao noticiário sobre o caso da Iurd. De acordo com o levantamento feito pela Record, a Globo gastou 10 minutos com o caso; o SBT, 7; e a Band, 2. A RedeTV! e a TV Cultura ainda não tinham tocado no assunto.

A repercussão no exterior
No mesmo dia, o Jornal da Globo, com William Waack, mostrou a repercussão no exterior das denúncias contra Macedo e seu grupo, acusados de usarem doações de fiéis em benefício próprio para comprar imóveis, carros e emissoras de TV e rádios. Minutos depois, o revide: uma edição especial do Fala que eu te escuto, programa religioso conduzido por pastores da Universal, exibiu trechos de um antigo documentário inglês contra a Globo. No programa, aparecia até o ex-governador do Rio Leonel Brizola criticando Roberto Marinho, o fundador da Rede Globo. 

Para a escritora Renata Pallottini, ex-professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, a guerra aberta entre Globo e Record deixa evidente uma disputa das emissoras por audiência e qualidade.
Juremir Machado, jornalista, escritor e professor universitário gaúcho, diz que a Globo está sentindo que tem um concorrente e decidiu atacar para fragilizá-lo.
– A Globo não tem moral para atacar ninguém. 

A Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (ABERT) não quis fala sobre o assunto. Procurada pelo Jornal do Brasil, a Globo, por meio da Central Globo de Comunicação, limitou-se a dizer: “Não nos cabe responder a essa agressão gratuita, porque, como é do conhecimento geral, o autor das denúncias é o Ministério Público de São Paulo”. A Record não quis se pronunciar sobre o caso. Mas, em seu Twitter (microblog pessoal), o bispo Macedo se defende das “acusações e perseguições da Globo” e escreve frases enigmáticas como “Quem serve a Deus é injustiçado e caluniado. Quem serve a si mesmo é admirado. Vamos ver quem sai ganhando”.

(Colaboraram Manuela Andreoni e Isabela Fraga)