Getúlio e a Revolução Cubana

Muitas vezes para se entender melhor os dias de hoje é importante mergulhar em fatos da história. No caso brasileiro, o início dos anos 50 é sintomático. Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja gestão foi uma das maiores tragédias da história republicana, voltou-se contra a Era Vargas. Cardoso queria a todo custo acabar com os resquícios desse período, não só privatizando estatais a preço de banana, como também flexibilizando a legislação trabalhista. Neste caso, não teve força política. Hoje, alguns empresários que se consideram modernos e têm muito espaço na mídia continuam a pressionar no sentido de alcançar o objetivo contra os trabalhadores.

Vargas, mesmo não sendo de esquerda, teve um destacado posicionamento antiimperialista, como demonstra a sua carta-testamento divulgada logo após o suicídio em 24 da agosto de 1954, provocado pela direita então conhecida como entreguista. Getúlio na ocasião não foi entendido por alguns setores que se consideravam revolucionários.

Muitos historiadores e mesmo agrupamentos políticos de esquerda absorveram algumas teses antigetulistas da direita, chefiada na ocasião por Carlos Lacerda, o baluarte do partido União Democrática Nacional (UDN), que de democrático tinha apenas o nome, pois seus integrantes viviam conspirando nos quartéis pregando a quebra da ordem constitucional.

Para ser ter uma idéia de como algumas cabeças se deixaram enredar pelo linchamento de Vargas promovido pela mídia conservadora, naquele fatídico 24 de agosto de 1954, a manchete golpista do jornal Imprensa Popular, do Partido Comunista Brasileiro, repetia a da Tribuna da Imprensa, então de propriedade do famigerado Lacerda. Resultado: o povo nas ruas reagiu empastelando a Tribuna da Imprensa e a Imprensa Popular, para não falar das viaturas incendiadas da rádio Globo, de propriedade de Roberto Marinho.

Posteriormente, a ortodoxia do PCB ao sentir a reação popular fez autocrítica. Mas aí, da mesma forma que Inês, Getúlio era morto. Os jovens revolucionários cubanos, que não eram dogmáticos, captaram na hora a mensagem de Vargas, documento que pode ser encontrado também no site da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas).

Nos anos 50, segundo resgate histórico feito pelo pesquisador brasileiro João dos Santos Filho em documentos encontrados na Universidade da Havana, na ilha do Caribe, integrantes de um movimento político que lutavam contra um tirano de nome Fulgêncio Batista, conseqüentemente contra os apoiadores da ditadura, os Estados Unidos, esmiuçavam a Carta Testamento*. Exato, o Movimento 26 de Julho, integrado por jovens revolucionários liderados por Fidel Castro consideravam a Carta Testamento de Getúlio Vargas leitura obrigatória por entenderem que se tratava de uma importante peça de caráter antiimperialista.

Os jovens tiveram acesso ao documento através de exilados cubanos que estavam organizados no Rio de Janeiro no Comitê de Exilados Cubanos. Eram 16 ao todo, muito atuantes e conseguiram até que fosse lido na Câmara dos Deputados, graças aos parlamentares Neiva Moreira e Romeu Franco Vergal, em 31 de dezembro de 1958, portanto, um ano antes do triunfo da Revolução cubana, uma moção, pedindo que o governo do então presidente Juscelino Kubitschek rompesse relações diplomáticas com Cuba. Para se ter uma idéia de como os exilados cubanos estavam tão mobilizados, chegaram até a realizar atos de protesto contra o governo de Fulgêncio Batista, um em frente ao Palácio Monroe, na Cinelândia, outro, da embaixada da Inglaterra empunhando bandeiras do Brasil e de Cuba.

No alto do Pão de Açúcar, uma das marcas registradas do Rio de Janeiro, os exilados cubanos colocaram a bandeira do Movimento 26 de julho, fato noticiado na primeira página pelos principais jornais do Rio. Alguns dias depois repetiram o protesto, desta vez hasteando a bandeira do 26 de Julho no Viaduto do Chá, centro da capital paulista.

Em janeiro de 1959, após alguns dias do triunfo da revolução cubana, o Comitê de Exilados Cubanos conseguiu ser recebido em audiência pelo presidente Juscelino Kubitschek. Os seus integrantes queriam não só que o governo brasileiro reconhecesse imediatamente o governo revolucionário, então sob o comando de Manuel Urrutia Lleó, como também a ajuda de JK para que pudessem retornar à ilha caribenha. O presidente autorizou que ele viajassem em um DC-3 da Força Aérea Brasileira, que protagonizou, a partir de 18 de janeiro de 1959, um histórico vôo pinga-pinga, saindo do velho Galeão (atual Tom Jobim) passando por Brasília, Recife, Natal, São Luis, Trinidad Tobago, San Juan de Porto Rico, Porto Príncipe, até chegar a Havana.

Por estas e muitas outras é importante mergulhar na história e no caso reler a Carta Testamento de Getúlio Vargas, que quase 55 anos depois continua válida e ajuda a entender melhor a história contemporânea brasileira

Muitas vezes para se entender melhor os dias de hoje é importante mergulhar em fatos da história. No caso brasileiro, o início dos anos 50 é sintomático. Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja gestão foi uma das maiores tragédias da história republicana, voltou-se contra a Era Vargas. Cardoso queria a todo custo acabar com os resquícios desse período, não só privatizando estatais a preço de banana, como também flexibilizando a legislação trabalhista. Neste caso, não teve força política. Hoje, alguns empresários que se consideram modernos e têm muito espaço na mídia continuam a pressionar no sentido de alcançar o objetivo contra os trabalhadores.

Vargas, mesmo não sendo de esquerda, teve um destacado posicionamento antiimperialista, como demonstra a sua carta-testamento divulgada logo após o suicídio em 24 da agosto de 1954, provocado pela direita então conhecida como entreguista. Getúlio na ocasião não foi entendido por alguns setores que se consideravam revolucionários.

Muitos historiadores e mesmo agrupamentos políticos de esquerda absorveram algumas teses antigetulistas da direita, chefiada na ocasião por Carlos Lacerda, o baluarte do partido União Democrática Nacional (UDN), que de democrático tinha apenas o nome, pois seus integrantes viviam conspirando nos quartéis pregando a quebra da ordem constitucional.

Para ser ter uma idéia de como algumas cabeças se deixaram enredar pelo linchamento de Vargas promovido pela mídia conservadora, naquele fatídico 24 de agosto de 1954, a manchete golpista do jornal Imprensa Popular, do Partido Comunista Brasileiro, repetia a da Tribuna da Imprensa, então de propriedade do famigerado Lacerda. Resultado: o povo nas ruas reagiu empastelando a Tribuna da Imprensa e a Imprensa Popular, para não falar das viaturas incendiadas da rádio Globo, de propriedade de Roberto Marinho.

Posteriormente, a ortodoxia do PCB ao sentir a reação popular fez autocrítica. Mas aí, da mesma forma que Inês, Getúlio era morto. Os jovens revolucionários cubanos, que não eram dogmáticos, captaram na hora a mensagem de Vargas, documento que pode ser encontrado também no site da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas).

Nos anos 50, segundo resgate histórico feito pelo pesquisador brasileiro João dos Santos Filho em documentos encontrados na Universidade da Havana, na ilha do Caribe, integrantes de um movimento político que lutavam contra um tirano de nome Fulgêncio Batista, conseqüentemente contra os apoiadores da ditadura, os Estados Unidos, esmiuçavam a Carta Testamento*. Exato, o Movimento 26 de Julho, integrado por jovens revolucionários liderados por Fidel Castro consideravam a Carta Testamento de Getúlio Vargas leitura obrigatória por entenderem que se tratava de uma importante peça de caráter antiimperialista.

Os jovens tiveram acesso ao documento através de exilados cubanos que estavam organizados no Rio de Janeiro no Comitê de Exilados Cubanos. Eram 16 ao todo, muito atuantes e conseguiram até que fosse lido na Câmara dos Deputados, graças aos parlamentares Neiva Moreira e Romeu Franco Vergal, em 31 de dezembro de 1958, portanto, um ano antes do triunfo da Revolução cubana, uma moção, pedindo que o governo do então presidente Juscelino Kubitschek rompesse relações diplomáticas com Cuba. Para se ter uma idéia de como os exilados cubanos estavam tão mobilizados, chegaram até a realizar atos de protesto contra o governo de Fulgêncio Batista, um em frente ao Palácio Monroe, na Cinelândia, outro, da embaixada da Inglaterra empunhando bandeiras do Brasil e de Cuba.

No alto do Pão de Açúcar, uma das marcas registradas do Rio de Janeiro, os exilados cubanos colocaram a bandeira do Movimento 26 de julho, fato noticiado na primeira página pelos principais jornais do Rio. Alguns dias depois repetiram o protesto, desta vez hasteando a bandeira do 26 de Julho no Viaduto do Chá, centro da capital paulista.

Em janeiro de 1959, após alguns dias do triunfo da revolução cubana, o Comitê de Exilados Cubanos conseguiu ser recebido em audiência pelo presidente Juscelino Kubitschek. Os seus integrantes queriam não só que o governo brasileiro reconhecesse imediatamente o governo revolucionário, então sob o comando de Manuel Urrutia Lleó, como também a ajuda de JK para que pudessem retornar à ilha caribenha. O presidente autorizou que ele viajassem em um DC-3 da Força Aérea Brasileira, que protagonizou, a partir de 18 de janeiro de 1959, um histórico vôo pinga-pinga, saindo do velho Galeão (atual Tom Jobim) passando por Brasília, Recife, Natal, São Luis, Trinidad Tobago, San Juan de Porto Rico, Porto Príncipe, até chegar a Havana.

Por estas e muitas outras é importante mergulhar na história e no caso reler a Carta Testamento de Getúlio Vargas, que quase 55 anos depois continua válida e ajuda a entender melhor a história contemporânea brasileira