Futebol e Trabalhismo: entrelaços de uma história popular


FLB-AP/Bruno Ribeiro - Foto: Centro de Memória Vasco da Gama
19/07/2017

A história do futebol, desde o final do século XIX, sempre esteve densamente entrelaçada com o avanço do Trabalhismo. Popular, inclusivo e igualitário, o esporte cresceu ao superar as barreiras sociais e econômicas, além do famigerado preconceito racial e social. No Dia do Futebol, uma troca de passes para relembrar fatos e momentos inesquecíveis de um tempo regulamentar.

Originalmente aristocrata ao chegar com os europeus, o futebol evoluiu no Brasil ao passo da acelerada popularização. Até 1930, porém, clubes brasileiros surgiram sem finalidades financeiras, colocando como objetivo a prática amadora de esportes variados, incluindo o remo no Rio de Janeiro, capital federal à época.

A futura “paixão nacional” começou a se consolidar a partir da década de 30 com as políticas implementadas pelo então presidente Getúlio Vargas. No seu governo, as atividades coletivas ganharam força a partir dos projetos em diversas áreas, incluindo o esporte ao lado de saúde e educação. Nos anos seguintes, ocorre a profissionalização a partir do promulgação da legislação do esporte diante de um Estado Novo que pregava o nacionalismo como premissa. Surgem, ainda, estádios, times com melhores jogadores e grandes torcidas. É a afirmação da capacidade de uma nação que saia do modelo agrícola para entrar na fase industrial.

Presente em cada canto da nação, a prática caiu nas graças dos negros e pobres, mas o racismo tentava reafirmar seu poderio e surgiam como barreiras para impedir uma alegria que surgiu na área brasileira. A abolição da escravatura estava no papel, mas não nas mentes dos então cartolas.

Um exemplo marcante despontava em São Cristóvão, bairro suburbano do Rio. Como forma de provocar a elite, o Club de Regatas Vasco da Gama conquista, em 1923, o campeonato carioca com um time formado por trabalhadores de origem humilde, brancos, negros e mulatos, sem dinheiro nem posição social.

Sob o pretexto do profissionalismo dos atletas, impediram sua participação dos participantes que não representavam a classe ariana. Esse reinado, porém, foi quebrado com a construção, em 1927, de São Januário, o maior estádio da América do Sul na época e que representou a quebra de paradigmas na sociedade. Nesse momento, os considerados grandes clubes recuam, ameaçados pelo avanço das instituições populares, e passam a aceitar a inscrição de jogadores humildes. Surge, portanto, um novo futebol.

Getúlio em campo

Nas décadas de 40 e 50, o dia 1º de maio ganhou a devida imponência com o Getúlio Vargas. Em São Januário, o trabalhista costumava promover eventos cívicos em homenagem ao Dia do Trabalho. Em 1940, o presidente da República anunciou, da tribuna do estádio e ao lado do então ministro do Trabalho e Emprego, João Goulart (foto de capa), a instituição do salário-mínimo. No ano seguinte, declarou a instalação da Justiça do Trabalho.

Ao todo, Vargas comandou a solenidade anual em cinco oportunidades. A cerimônia perdurou em 51 e 52, mesmo depois da inauguração do Maracanã, símbolo da Copa do Mundo de 1950.

Brizola na raça

Em 1964, antes do golpe militar e do consequente exílio, Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e então deputado federal pelo estado da Guanabara, recebeu uma nobre homenagem: o Sport Club Internacional conquistou a Taça que levou seu nome.

Em dois jogos contra o Peñarol, do Uruguai, o clube gaúcho garantiu o título com duas vitórias, sendo o primeiro jogo em Montevidéu, capital uruguaia, e o segundo em Porto Alegre (RS).