Erick Nepomuceno abre ciclo do MAPI sobre América Latina

Nesta quarta-feira, 7 de outubro, o Movimento de Aposentados, Pensionistas e Idosos (MAPI), do PDT, promoveu o primeiro encontro para discutir a situação política da América Latina, com palestra do escritor e jornalista Eric Nepomuceno, autor do recém-lançado livro ‘A memória de todos nós’.

O ciclo de debate América Latina: a Pátria Grande – que recebe apoio da Fundação Leonel Brizola–Alberto Pasqualini e da Fundação Darcy Ribeiro – terá sequência, na próxima quinta-feira (dia 15), com palestra de Trajano Ribeiro (‘O Brasil na América Latina’), no auditório da FLB-AP (Rua do Teatro, 39 – Rio de Janeiro), mesmo local do encontro inicial.

Eric Nepomuceno falou sobre a história das ditaduras que foram implantadas na América Latina: “Das ditaduras recentes, porque se fosse falar sobre todas as ditaduras, lamentavelmente, teria de escrever uma lista telefônica”. Fez um relato deste período de exceção, que teve início na América Central, em meados dos anos 50 e se espalhou rumo ao sul do Continente:

– “Lembro que, em um determinado momento – em setembro de 1976 –, na América do Sul, só dois países tinham governos eleitos: Colômbia e Venezuela. Não chegaria a afirmar que eram democracias; mas, pelo menos, eram governos eleitos e constitucionais”.

América Central: o triste começo

Este “ciclo nefasto de ditaduras” teve início em 1954, na pequena Guatemala, com a derrubada do presidente Jacobo Arbenz Guzman, constitucionalmente eleito: militar visionário e progressista, “que cometeu várias imprudências; talvez a maior delas foi a de tentar uma reforma agrária que iria favorecer a população indígena”.

A Guatemala é um país mestiço; mas uma mestiçagem rara: 80% dos guatemaltecos são de origem indígena e muito pouco mesclada. Esta população seria beneficiada por terras, em detrimento das grandes companhias da América do Norte, que exerciam, na época, o monopólio de produção rural, de frutas especialmente, em toda a América Central.

Neste mesmo ano, no vizinho Paraguai, um filho de alemão (este funcionário de uma cervejaria) chegou ao posto de General do Exército. Segundo Eric, “esse filho de cervejeiro – Alfredo Stroessner – achou que ser general era pouco, então estreou sua nova patente dando um golpe”, e disse mais:

“Ele cometeu uma façanha incrível: foi reeleito, por imensa maioria, nada menos que sete vezes; até ser deposto em fevereiro de 1989. Nessas eleições consecutivas, pode-se dizer qualquer coisa, menos que tenham sido legítimas. O próprio Stroessner se vangloriava de ser um mestre na arte fraudar”.

No ano seguinte, outro militar – Juan Domingo Perón – foi derrubado, na Argentina, graças a um golpe dado por uma aliança entre setores extremamente conservadores da sociedade civil (sobretudo os produtores rurais), parte das Forças Armadas e da Igreja Católica e, “de maneira evidentemente, sem nenhuma preocupação em ser discreta, pela Embaixada dos Estados Unidos”.

Havia, em Cuba um antigo sargento do Exército chamado Fulgêncio Batista que submeteu a Ilha a um regime esplendorosamente corrupto, que contava com o beneplácito total dos Estados Unidos.

Em 1959, quando triunfa a Revolução Cubana, “o que era a Guerra Fria, no mundo, aqui virou a guerra gelada”. Isto é: exacerbaram todas as táticas, as estratégias, as violências da Guerra Fria. Em 1961, Fidel Castro cumpria dois anos de poder, em Cuba, e foi declarado inimigo por Washington. Ficou sem saída.

Conforme a Revolução foi tomando seu rumo, Washington viu que aquilo ali não valia a pena: “embarga Cuba!”. Ouve uma tentativa de invasão à Ilha; e Cuba se alia à União Soviética. E, com isto, o quadro da Guerra Fria se instalou para sempre. Para os Estados Unidos impedirem que o exemplo cubano se alastrasse, virou prioridade máxima

Eric Nepomuceno falou sobre as ditaduras instaladas em países mais fortes economicamente, como Brasil, Argentina, Uruguai e Chile – que possuíam identidades comuns, inclusive nas atrocidades cometidas contra presos políticos; e também guardavam suas especificidades. Por exemplo, a viagem aérea para a morte e o roubo de bebês, ocorridos na Argentina.

As militantes – “não estou falando de guerrilheiras: eram militantes de distribuir panfletos na esquina, sindicalistas, estudantes; meninas de 19 anos” – que engravidavam eram preservadas; tinham alimentação melhor, “por exemplo, ganhavam uma maçã aos sábados”, podiam dormir em colchonetes; em geral, não eram violadas. Até terem seus filhos, na cadeia: “Aí, acabou o prazo de validade”.

Estes bebês não eram entregues aos pais destas moças mortas, porque eram famílias contaminadas ideologicamente – “a barbaridade chegava a este ponto”; mas a famílias que saberiam criá-las dentro da melhor tradição da dignidade ocidental, cristã.

 

 

 

OM – Ascom PDT /AG