Disputa, pureza e sonho, por Vitor Straub


Vitor Straub
04/10/2019

Eu tinha tudo para não ser pedetista. Metade da minha família recorre à interpretação liberal de ver a sociedade e interpretar o mundo. E a outra metade, acredita no projeto de esquerda surgido após os anos 80 que se expressa nos partidos PT e PSOL.

Tenho memórias de infância da minha mãe, minha principal influência de vida e uma petista de carteirinha, falando mal do Brizola. Ela era uma admiradora de Vargas, chegou a trabalhar junto de um mandato do PDT, mas eu lembro de uma resistência forte ao PDT e ao Brizola. Eu lembro de um episódio que me marcou dela tendo quase um ataque porque foi convidada para uma reunião do partido.

Do lado paterno, sempre ouvia uma interpretação muito conservadora do que foi o governo Brizola. Embora, curiosamente, as pessoas mais velhas tenham uma memória positiva do Getúlio. Tenho uma tia-avó que guarda uma foto que tirou com o Vargas e se você falar um “ai” do velho, ela dá na sua cara. Mas tirando essa questão em especial, a narrativa sobre o que o PDT representava sempre foi muito negativa.

Tudo isso desaguou em um preconceito. Esse desmontado quando tive contato, no início da minha graduação, com a história do Brasil, do trabalhismo e com Darcy Ribeiro. Ler o “Povo Brasileiro” foi uma aula de mundo. Conheci uma corrente política que mudou o Brasil, mexeu nas estruturas e nas injustiças. Criou a CLT, a Previdência Social, o BNDES, a Petrobras, a Eletrobras, Justiça do Trabalho, salário mínimo, IBGE, CSN, Vale do Rio Doce. Garantiu o voto às mulheres. Forçou a burguesia a contratar a população negra, que era preterida diante dos imigrantes europeus, com a lei dos 2/3. Propôs um projeto ambicioso de reformas nos anos 60 e tomou um golpe feito pelas elites que nunca suportaram essa corrente política. Construiu um programa revolucionário na educação, com os CIEPs. Foi pioneira no debate dos direitos humanos, quando o governo Brizola enfrentou os abusos cometidos contra a população mais pobre. Me reconheci trabalhista ali. Para o Brasil não ser mais um país colonial com técnicas capitalistas. Para não ser mais “um moinho de gastar gente”.

E foi assim. Me aproximei, muito resistente por conta das contradições dos mandatos. Compareci em reuniões da Juventude Socialista e em plenárias mensais promovidas com o conjunto do partido. Foi um processo de conquista. Comecei a perceber que o PDT não era um instrumento, é muito além disso, é um sonho de Brasil. Deparei-me com uma base popular, de verdade, e extremamente ligada a esse sonho.

Recomendo sempre todo mundo a comparecer em uma reunião do PDT aqui no estado do Rio. É uma experiência única. Reúne do velho fundador ao novo filiado, do pastor ao ateu, do rico ao pobre. Reúne a vida do povo brasileiro com tudo que tem direito. Contradições, emoções, confusões. Você vai ver todo tipo de gente e inúmeras cenas.

Nunca me esqueço em ver um cara que brotou do chão pegando o microfone, amaldiçoando e fazendo juras de amor ao Carlos Lupi. Tudo isso ao mesmo tempo. Aliás, se tem uma coisa que representa o PDT é o Lupi. Dentre inúmeros quadros, Brizola escolhe um jornaleiro, um trabalhador para comandar o partido.

Isso tudo, como disse, me conquistou. E eu percebi que o partido é um espaço de disputa e a base do partido constrói hoje, com toda certeza, um projeto de transformação.

Óbvio que me machuca, construir dia e noite o projeto trabalhista e ver alguns votos e desvios de alguns mandatos. Contudo, não estou no PDT para cumprir meu fetiche de pureza. Estou para construir a realização de um projeto. O quê o partido é se apequena diante do que esse partido será.

Por isso, trato com muita tranquilidade esses casos, ciente que, durante o processo de transformação, esses desvios vão aparecer. Não vamos nos enganar, nos iludir, a democracia liberal possui suas contradições e os partidos vão carregá-las.

Quem está dentro sabe o quanto crescemos e o quanto a mudança está sendo palpável. Ela não será do dia para a noite, nem chegará pelo correio. Será construída no suor e no embate em defesa do trabalhismo. Não entregarei o partido a esses que usurpam e votam contra o povo brasileiro. Não estou disposto e nunca estarei.

Voltaremos para o comando da nação e, como sempre, o couro vai comer. Não terá arrego à banca, e eles sabem disso. Pode não ser hoje, pode não ser daqui a 4 anos, mas voltaremos com toda certeza. E, como o velho disse, esse povo não será mais escravo de ninguém.

Quem quiser conhecer e trocar uma ideia sobre o trabalhismo, pode falar comigo e me perturbar à vontade.

*Vitor Straub é estudante de Economia, militante da Juventude Socialista e Vice-Presidente da UNE