Darcy, o eterno mestre, completa 95 anos


Hari Alexandre Brust
25/10/2017

Nascido em Montes Claros, Minas Gerais, em 26 de outubro de 1922, o mestre Darcy Ribeiro, que veio para este mundo com o DNA da cultura e da educação, completa, nesta data, 95 anos.

Discípulo de Anísio Teixeira, nosso maior educador público, criador da escola pública do Brasil sob a égide, “Educação não é privilégio, educação é um direito”, o jovem Darcy formou-se em antropologia e, durante dez anos, 1946-1956, dedicou-se ao estudo dos índios do Brasil Central e da Amazônia. Como resultado dessa convivência publicou, em 1957, “Cultura e línguas indígenas do Brasil” e “Arte plumária dos índios Kaapor”, em 1962, “A política indigenista brasileira”, em 1970, “Os índios e a civilização”.

Pelo seu trabalho desenvolvido na educação e na antropologia, participou ativamente na criação da Universidade de Brasília na década de 1960, tornando-se seu primeiro reitor.

Pela sua destacada atuação na área da educação, na Capital Federal, foi convocado pelo presidente João Goulart, para o cargo de Ministro da Educação (1962) e, posteriormente, Chefe da Casa Civil até 31 de março de 1964.

O Golpe de 1964 contra o presidente João Goulart foi assim definido pelo mestre Darcy: “Jango não caiu pelos seus defeitos, foi derrubado palas suas qualidades”.

Com seus direitos políticos cassados, Darcy exilou-se no Uruguai, onde foi convidado para participar da reforma Universitária, além de outros países como Peru, Chile e Venezuela.

Com a promulgação da Lei da Anistia Política, em 1979, ao lado de outros exilados Darcy, juntamente com Brizola, retoma a caminhada política interrompida em 1964.

Nas eleições de 1982, Brizola foi eleito governador e Darcy seu vice, tendo sido responsável pela implantação dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP’s), um projeto inspirado no modelo da Escola Parque, implantada na Bahia, na década de 1950, por Anísio Teixeira. Esses Centros, além de ensino, assistiam as crianças em atividades recreativas, culturais e sociais.

Em seu livro, publicado em 1985, “Aos trancos e barrancos – como o Brasil deu no que deu”, Darcy do alto do seu conhecimento antropológico e social, há mais de 30 anos, já preconizava: “É indispensável impedir o passado de construir o futuro: quero dizer, tirar da gente que nos regeu e infelicitou através dos séculos o poder de continuar conformando – deformando nosso destino. É hora de lavar os olhos para ver nossa realidade. É hora e passar o Brasil a limpo, para que o povão tenha vez. No dia em que todo brasileiro comer todo dia, quando toda criança tiver um primeiro grau completo, quando cada homem e mulher encontrar um emprego estável em que possa progredir, se edificará aqui a civilização mais bela deste mundo. Se não cuidarmos deste país que é nosso, os gerentes das multi e seus servidores e sequazes civis e militares continuarão forçando o Brasil a existir para eles”.

Em 1986, Darcy concorreu, pelo PDT, às eleições de governador do Rio de Janeiro, tendo sido derrotado por Moreira Franco (o gato angorá apelidado por Brizola).

Convidado pelo Governo do Estado de São Paulo, para elaborar o projeto cultural para o Memorial da América Latina, projetado por Niemeyer, deu alma ao mais importante monumento cultural, político e social da América Latina, inaugurado em março de 1989.

Eleito Senador pelo Rio de Janeiro em 1990, não chegou a concluir seu mandato. Acometido por doença grave (câncer), o mestre passou para eternidade, em 17 de fevereiro de 1997. Durante sua convalescença, recolhido em sua casa de praia em Maricá – RJ, concluiu seu livro “O Povo Brasileiro”, em que aborda a formação do povo brasileiro. Num dos capítulos faz a seguinte observação: “Nas últimas décadas surgiu e se expandiu um corpo estranho em nossa cúpula social. É o estamento gerencial das empresas estrangeiras, que passou a construir o setor predominante das classes dominantes. Ele emprega os tecnocratas mais competentes e controla a mídia, conformando a opinião pública. Ele elege parlamentares e governantes. Ele manda, enfim, com desfaçatez cada vez mais desabrida!! (O Povo Brasileiro).

Com o retorno de Brizola ao governo do Estado do Rio (eleições 1990), Darcy é novamente convocado, agora para coordenar a implantação da Universidade Estadual do Norte Fluminense, na cidade de Campos. Esse estabelecimento de ensino superior, foi concebido fugindo dos padrões das Universidades convencionais, tendo seu projeto sido apresentado como a Universidade do Terceiro Milênio. No ano de 1993, data da sua fundação, recebeu o nome de Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

Para imortaliza-lo, Darcy foi eleito para Academia Brasileira de Letras, em final de 1992, para a cadeira nº 11, cujo patrono é Fagundes Varela. Concluiu seu discurso de posse com o seguinte recado: “Estou certo de que alguém, neste resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os seguintes menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar meu nome. Nisto consistirá minha imortalidade”.

Darcy enriqueceu nossa cultura com dezenas de obras na área da educação, antropologia, etnologia, romances e ensaios, a Ele a nossa meia página.

 

*Hari Alexandre Brust é membro da Executiva Estadual do PDT, da Bahia.